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quarta-feira, 23 de março de 2011

O Público e o "Privado"

A prepotência do governo federal, que parecia não ter acompanhado a troca da faixa presidencial, dá sinais de renascimento no governo Dilma.
A exigência da troca de comando da Vale, com a saída de Roger Agnelli da presidência, é uma demonstração clara do continuísmo do "modus operandi" do governo, que assim como faz com a Petrobrás- uma empresa de controle estatal - quer subjugar a Vale, que desde 1997 se tornou uma empresa privada.
Não que não seja permitido a qualquer acionista, de qualquer empresa privada, pleitear e requerer a troca de comando quando os rumos das empresas e os resultados dos acionistas não estão sendo bem conduzidos.
O governo federal, acionista e um dos principais controladores da Vale através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), pode fazê-lo, bem como, a Bradespar (Bradesco) e a Mitsui Trading (capital japonês), as outras duas empresas do bloco de comando.
As coisas não vão bem, troca-se a administração da empresa. Tudo certo, não fosse por um pequeno detalhe. Durante os dez anos de comando de Agnelli, a Vale teve um crescimento exponencial, tornando-se a segunda maior empresa de mineração do mundo.
Em 2010, a Vale obteve um lucro líquido de R$ 30,1 bilhões, o maior de toda a história da mineração.
Então, onde está o problema?
A primeira "trombada" com o governo federal aconteceu em 2008, quando a Vale demitiu funcionários e suspendeu provisoriamente alguns investimentos para fazer frente a toda a crise mundial. Isso contrariava explicitamente o discurso do governo, que preconizava o Brasil como a Ilha da Fantasia, com empregos e trabalhos abundantes.
Quando tudo parecia acomodado, apesar do osso encalacrado na garganta do governo, vem a segunda tentativa governamental de meter as mãos nos cofres da Vale.
Uma dívida de R$ 4 bilhões em royalties para municípios mineiros, tida como certa pelo governo e contestada veementemente pela Vale, joga gasolina sobre a brasa adormecida.
A Vale quer resolver as coisas na justiça, o governo quer que tudo seja resolvido nos gabinetes palacianos, sem maiores envolvimentos da mídia.
O governo considera um desrespeito a chefia, uma insubordinação, uma falta de patriotismo de Agnelli, colocar os interesses dos acionistas da Vale acima dos interesses políticos do país.
O absurdo maior parte da boca do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão: “O que são R$ 4 bilhões para uma empresa que teve um lucro líquido de mais de R$ 30 bilhões?”
A Vale é hoje a maior exportadora brasileira e conta com mais de 115.000 empregados. Será que preservar a empresa sadia, gerando exportações e empregos, não é atender os objetivos do governo federal?