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sexta-feira, 30 de março de 2012

A estatística do frango e do trem

Essa coisa de estatística é sempre engraçada. Dois amigos vão a um restaurante, pedem um frango que só um deles come. Estatisticamente cada um comeu meio frango, na realidade um se fartou e o outro saiu com fome, não é?
A tentativa canhestra do secretário estadual dos transportes metropolitanos - Jurandir Fernandes -de usar a estatística para defender os desacertos da CPTM, soa no mínimo irresponsável.
"A CPTM está dentro dos padrões internacionais. Nesses três primeiros meses do ano fizemos mais de 600.000 viagens (considerando-se também a operação do Metro). Estatisticamente 22 panes não representam nada".
Representam sim, meu caro. Em cada uma dessas paralisações 90.000 pessoas foram afetadas diretamente, sem contar o fato que são trabalhadores e a sua ausência ou atraso acabam comprometendo toda a cadeia produtiva.
Mas já que o tema é estatística, que tal essa?
Do dia 1 de janeiro até ontem foram 89 dias. Descontando-se 3 dias de carnaval e 16 domingos (dia do chamado descanso), são 73 dias úteis de trabalho, já se considerando o sábado como dia útil.
Portanto, de 73 dias úteis nesses primeiros três meses, a CPTM apresentou problemas em 22 dias. Ou seja, estatisticamente a CPTM falhou em 30% dos dias
existente.
Essa é a estatística da população, que não vive nem come estatística.

quinta-feira, 29 de março de 2012

A Felicidade e a Justiça

Mantendo a grande lupa sobre os escândalos e mazelas dos três poderes brasileiros, a mídia nacional
vem apurando e dando o devido destaque para todos os desvios de conduta, aliciamentos e corrupções
existentes nas esferas de comando do nosso país.
Às vezes -em casos específicos e flagrantes- em uma orquestração que nos deixa uma ponta de dúvida a que interesse serve.
Muito tem se dito ultimamente sobre as nossas cortes e seus homens de toga.
Favorecimentos, sentenças vendidas, apropriações de verbas indevidas, legislar
em causa própria, enfim, pautas e mais pautas sendo produzidas para consumo imediato,
para aproveitar a audiência do momento.
Não estou a discutir o mérito de cada questão. Acredito que tudo deva ser apurado com
a mais absoluta isenção e que as condenações, quando devidas, sejam rápidas e exemplares.
A forma mais eficaz de educação é o exemplo.
O contraponto que gostaria de apontar, é uma matéria que infelizmente não obteve toda luz e destaque, conduzida
pelos jornalistas Maíra Magro e Juliano Basile, na edição do dia 23 de março de 2012, do caderno
Eu&Fim de Semana, encartada no Valor Econômico.
Levando o título de Direito à Felicidade, a matéria inicia com o caso de um aposentado da Receita Federal – Antonio Madeira-
que praticamente no final da vida, teve que amargar um corte de 20%. Anos de luta nos tribunais e apenas um ano antes da
sua morte obtém a vitória na Suprema Corte.
Carlos Veloso, ministro do Supremo Tribunal Federal e relator do processo de Antonio Madeira, ao emitir seu voto favorável,
apontou como uma das razões mais relevantes para a existência das normas, o direito do homem a buscar a felicidade.
A felicidade passou a ser um tema recorrente em um numero cada vez maior de sentenças em nossos tribunais.
Considerável grupo de juristas, em quantidade e qualidade, opina que a tal felicidade (como já cantavam as Frenéticas), não
pode servir de critério ou parâmetro para uma decisão judicial. Nada pode sobrepor-se as leis vigentes, serão sempre
julgamentos subjetivos, conduzidos no calor da questão.
Exemplificam com serial killers e estupradores, que poderiam justificar seus crimes como a busca da felicidade pessoal.
Ora, entre o mal a ser evitado e o bem que pode ser feito, a esmagadora maioria reina carente e necessita de uma melhor compreensão
para o seu problema.
Afinal o que é felicidade individual? Quando o coletivo pode ser premiado?
Quando um juiz do STF reconhece uma união homossexual, garantindo todos os direitos do casal, em um primeiro momento
o benefício é individual, mas, com certeza, a jurisprudência irá estender a vitória a toda uma coletividade que aguarda ansiosamente
esse desfecho.
A felicidade de alguém não é necessariamente a infelicidade do outro.
Para um paciente que necessita desesperadamente de uma cirurgia, negada por seu plano, obter a vitória para o seu pleito, significa levar
a infelicidade para a empresa prestadora do serviço médico?
Que a operadora do plano obtenha o ressarcimento do seu prejuízo junto aos canais competentes.
A empresa pode esperar a vida não.
Que se revejam as leis. Que se estabeleça com clareza quando negar uma simples satisfação pessoal e quando premiar uma sentença
que abrirá as portas para toda uma coletividade.
Afinal, o que todos buscamos nessa vida não é ser feliz?

segunda-feira, 26 de março de 2012

Uma aula celestial

A ansiedade era enorme, afinal, o tão aguardado convidado estava para chegar.
Como em um balé mágico, cada um dos presentes procurava naquela agitação dos acertos finais, o seu exato lugar
na festa, para que tudo corresse dentro do que fora previamente combinado.
Um velho coronel, vestido com um terno de linho branco e chapéu de abas largas, ainda acreditando em um poder a muito
perdido, bradava ordens de comando não obedecidas, enquanto procurava por todo o salão a sua mulher Maria Teresa.
No canto do bar, em seu enésimo uísque, um sujeito completamente entorpecido pela bebida, respondia a todos
que o chamavam de bêbado “...sou, mas quem não é?”
Em uma das muitas rodas de amigos formadas pelo local, avistava-se um senhor com um óculos de grau que possuía uma só das lentes
escura, como se fosse um tapa olho. Em voz alta, coisa que acentuava ainda mais o seu sotaque nordestino, contava para todos como
havia capturado uma onça feroz usando somente a força do seu pensamento, coisa prontamente confirmada pela esposa Terta, sua
fiel testemunha.
Uma senhora com um chapéu e luvas brancas rendilhadas, sentada em uma das poltronas, falava ao telefone com ares de segredo.
O comentário que corria pela festa é que ela estava falando com alguém importante de Brasília
Certamente não seria com o deputado, que com um bigode que mais parecia uma vassoura de piaçava, reclamava de todas as pessoas
humildes que o procuravam para fazer algum pedido, afirmando que para ele todos os pobres deveriam explodir.
Celebridade como convém a todo grande evento, não faltavam.
Um provável galã de novelas mexicanas, com uma inenarrável redinha a prender seus cabelos e um blazer que mais
parecia um robe de cetim, aborrecido por alguma pergunta feita pela entrevistadora de uma televisão, gritava para que
todos pudessem ouvir, “Eu não garavo mais!”
As atenções da imprensa logo se voltaram para mais um “famoso”, que vestindo um surrado agasalho esportivo, com uma bola
de futebol murcha embaixo do braço, insistia em afirmar que só estava esperando a convocação do Mano para se integrar a equipe
da seleção brasileira.
Enquanto isso, desfilando entre os convidados com um enorme crachá prateado pendurado no pescoço, um rapaz dentuço buscava seduzir
as mulheres presentes dizendo-se poderoso e amigo da “diretoria”.
No palco, um grupo de artistas com imensas cabeleiras e vestidos à la tropicália, cantavam uma música com um refrão esquisito, qualquer coisa
como ....vou batê pra tu batê, pra tu batê.
Observando ao longe, um velho negro com cabelos brancos encaracolados como se fossem nuvens, afasta dos lábios seu
cachimbo de madeira e sorri ao ver o esforço de um garçom fanho, com um bigodinho pequeno e fino, tentando explicar a um convidado
qual seria o cardápio.
Repentinamente as luzes se apagam e a música para. Silêncio.
O facho de um canhão de luz é dirigido para a porta principal do salão que se abre para deixar o convidado entrar.
Ele chegara!
Caminhando vagarosamente, como a querer saborear cada segundo da sua homenagem, o velho mestre encaminha-se ao
centro do salão.
A cabeleira ainda é toda branca, as rugas ainda desenham o seu rosto, como se quisessem perpetuar a história de toda a sua vida.
O terno - o mesmo - puído por anos de lavar e tornar a vestir. A gravata, que um dia fora encarnada, e que agora o tempo se incumbira de rosar.
Mas alguma coisa estava diferente.
As dores de coluna que por tantos anos lhe incomodaram haviam desaparecido. A tosse, cultivada a pó de giz durante uma vida inteira, não se
fazia presente. Suas pernas enfraquecidas haviam adquirido força nova. Caminhar já não era mais um sacrifício, a ligeireza havia voltado. Parecia
pronto para correr novamente pelas caatingas do seu nordeste, quem sabe até voltar a jogar futebol, no ataque do seu Vasco, quem sabe.
Olhando á sua volta reconhece a cada um dos seus filhos. Recorda o sofrimento e a alegria de cada criação. Cada um, um pedaço dele próprio.
Mãos o levantam e carregado em triunfo é conduzido ao palco. Ali sempre fora a sua casa, sua vida, sua fé.
As luzes não o impedem de enxergar a todos. Consegue avistar seus antigos companheiros, pessoas que tanto ajudou, mas que sempre souberam retribuir
cada gesto de carinho.
Convoca-os ao palco, chamando cada um pelo nome.
Enxuga a lágrima teimosa que insistia em cair e com a habitual voz rouca dá o comando.
- Senhores, ao trabalho! Vamos lá que aqui o Chefe não gosta de atrasos.
Nós, aqui na Terra ficamos órfãos, mas tenho a certeza que o Céu ficou um lugar muito, mas muito mais feliz de se viver!

segunda-feira, 12 de março de 2012

O Brasil e a Copa do Mundo

Segundo pessoas muito bem informadas sobre o andamento das obras de
infraestrutura para a Copa do Mundo de 2014, o Brasil deverá
cumprir todas as etapas do planejamento exigido, com restrições
e “adequações”, infelizmente tão comuns em terras brasileiras.
Dos 12 estádios prometidos 9 ou 10 deverão estar completamente prontos e com
padrão internacional, para não ficar devendo nada aos mais modernos do mundo.
Os restantes 2 ou 3 com certeza ficarão pelo caminho.
Quanto aos aeroportos e vias de acesso o “buraco é mais embaixo”. Provavelmente
nem metade do prometido será entregue.
Claro que o plano b já está traçado. Aviões internacionais com códigos de
preferência para o pouso, as vias de acesso aos estádios em sentido único para ida e volta,
tudo para passar a sensação para os turistas que todos os nossos problemas de transporte foram brilhantemente resolvidos
Agora, se mesmo assim o trânsito não aliviar, restará sempre o recurso de decretarmos feriado nacional nos dias de jogos.
Afinal, esse é ou não é o país do futebol?

sexta-feira, 9 de março de 2012

Caminhão ou Com a Minha Não

Será que é muito difícil entender que a população de São Paulo não tem mais como conviver com os índices de congestionamentos atuais?
Que a infraestrura urbana da cidade não tem como acompanhar a insana produção da indústria automobilística?
Que não bastam os investimentos (minguados) públicos, sem a conscientização de cada um de nós?
Que algumas profissões deverão ser repensadas em horários e caminhos alternativos?
Afinal, 56% de redução no índice de congestionamento no horário de pico ontem a tarde, foi coisa de cinema.... antigo, do tempo era uma vez uma Marginal do Tiête!

Um ano da tragedia

Segunda feira próxima, 12 de março de 2012, a terrível tragédia que devastou toda a costa nordeste do Japão completará um ano.
O terremoto seguido do tsunami, além de criar uma crise atômica e ceifar milhares de vidas, praticamente reduziu a pó toda a infraestrutura das cidades atingidas.
Apesar de ainda terem em suas mãos o enorme problema de todo o entulho gerado, os japoneses nesse um ano praticamente reconstruíram grande parte do que foi destruído. Um exemplo maravilhoso de determinação, trabalho, vontade política e consciência coletiva.
Caso o mesmo tivesse ocorrido no Brasil, após um ano, as nossas autoridades ainda estariam discutindo as regras da licitação para a escolha da empreiteira encarregada da reconstrução.