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sexta-feira, 12 de março de 2010

Fundada a Garçom S.A.

O Senado Federal, em uma demonstração de "sintonia absoluta" com os principais problemas brasileiros, acaba de aprovar a criação, por projeto de lei, da mais rentável empresa brasileira – Garçom S.A.

O projeto aprovado dia 10/03, prevê o aumento da gorjeta, de 10% para 20% (contas fechadas após ás 23:00 hs), para profissionais de bares, restaurantes e similares.
De autoria do senador Marcelo Crivella (PRB), o projeto também passa a incluir a gorjeta nos cálculos trabalhistas – FGTS, férias e 13º.

Claro, dirão os defensores, que como a gorjeta não é obrigatória, ninguém é obrigado a pagar. Que só incide em contas fechadas após as 23:00hs.
Mas, qual é a parcela da população que, passando por cima do constrangimento, não paga hoje os 10% de taxa?
Qual é a proporção de contas fechadas em bares e restaurantes antes e depois das 23:00 hs?
Alguma dúvida sobre a possibilidade dos 20% virar regra geral, não importando o horário?

Claro que sempre é possível você chegar ao seu bar ou restaurante favorito – antes das 23 horas – pedir tudo que vai consumir durante a noite e já mandar fechar a conta, não é?

Partindo do raciocínio que uma empresa que gera um lucro anual entre 18% a 20% é extremamente lucrativa, gerar 20% de lucro líquido faz de qualquer empresa uma mina de ouro.

Mesmo em um mercado em que os números são sempre difíceis de apurar, alguns dados podem ser usados para dar a dimensão do faturamento do setor.

Segundo pesquisa realizada pelo Grupo GfK -a quarta maior empresa de pesquisa de mercado do mundo - hoje, 12% da população brasileira come fora de casa, com um gasto semanal de R$ 67,13 por pessoa.

São vinte e dois milhões e oitocentas mil pessoas gastando R$ 6, 122 bilhões por mês ou R$ 73,4 bilhões por ano. Esse valor anual é maior que os R$ 58,5 bilhões que são gastos com vestuário confeccionado e os R$ 32,9 bilhões com mobiliário e artigos do lar (fonte Target).

Não está incluído nesses valores o faturamento dos bares e assemelhados.

Portanto, considerando o resultado de R$ 73,4 bilhões gastos com refeições, a nova gorjeta poderá gerar um faturamento de R$ 14,6 bilhões anuais.
Como comparação,o Banco do Brasil, melhor resultado entre os bancos brasileiros, apresentou um lucro de R$ 10 bilhões em 2009.

Poderá gerar? Sim, porque o tiro pode sair pela culatra. A revolta contra os novos valores provavelmente fará com que a grande maioria dos consumidores deixe de pagar à atual e a nova taxa aprovada.

A manifestação dos garçons a semana passada, em frente ao Congresso Nacional, reivindicava simplesmente o recebimento dos 10% da gorjeta, não o seu aumento. Como é sabido, os 10% atuais servem muito mais para engordar o bolso dos patrões, do que os paupérrimos salários pagos a esses profissionais. Agora 20%??

Qual é a chance de quem já não recebe 10%, passar a receber 20%?

Lembra a história de um diretor, recém empossado no comando de uma equipe comercial, que ao constatar o desânimo do pessoal, que já estava a um bom tempo sem receber salário, chama o líder dos vendedores para uma "injeção de moral" em sua sala.

"Olha, Carlos, estava examinando o seu histórico na empresa e constatei que você ganha R$ 3 mil reais por mês. Acho que isso é muito pouco para uma pessoa com as suas qualificações. Portanto, á partir do mês que vem, o seu salário passa a ser de R$ 6 mil reais!"

"Chefe, não querendo parecer mal agradecido, vou recusar esse aumento".

"Mas como? Você recusa o aumento?".

"Recuso sim. Veja bem, R$ 3 mil eu aguento ficar sem receber, mas com R$ 6 mil eu quebro!"

segunda-feira, 8 de março de 2010

O Caminha estava certo

" Porém a terra em si é de muitos bons ares, assim frios e temperados como os de Entre Douro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá.
Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem".

1 de maio de 1500 - Pero Vaz de Caminha

Caminha, bravo escriba da esquadra portuguesa de Pedro Alvares Cabral, com pouco mais de uma semana em nossas terras,já previa a vocação que o Brasil possuía para se transformar em um dos grandes provedores de alimentos do mundo.
Hoje, quase quinhentos e dez anos depois, o vaticínio mais uma vez é confirmado.
O Brasil acaba de se tornar o 3º maior exportador de produtos agrícolas do mundo. Com exportações na casa dos U$ 61,4 bilhões de dólares, derruba o Canadá que exportou U$ 54 bilhões para a quarta colocação, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da União Européia.E olha que isso não é pouco!
Com uma área territorial de 9.984.670 km², o Canada é a quarta maior área arável do mundo, perdendo apenas para a Rússia (17.075.400 km²), para a China (9.596.960 km²) e para os Estados Unidos (9.629.091 km²). O Brasil ocupa apenas a quinta posição no ranking, com uma área territorial de 8.514.876 km².
O crescimento das exportações agrícolas brasileiras, nos últimos oito anos, tem apresentado taxas surpreendentes - 18,6% contra 11,4% da União Européia e 8,4% dos Estados Unidos.
Muito desses resultados devem ser creditados ao brilhante trabalho de empresas como a Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, que com suas pesquisas tem tido um papel fundamental no aumento dos nossos índices de produtividade. Nos últimos vinte anos, o crescimento da produtividade brasileira suplantou em quase três vezes o crescimento das áreas plantadas.
A soja e a carne se tornaram os grandes vetores da expansão das exportações agropecuárias do Brasil.
Claro, que o aumento da demanda asiática e um cambio favorável ajudaram muito a nossa performance, mas acima de tudo (como anteviu Caminha), os chamados recursos naturais - a qualidade do solo, o clima e a água farta - fizeram a sua parte.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Capitalizando o jogo.

Os títulos de capitalização fecharam o ano de 2009 com um resultado de R$ 10,1 bilhões, um crescimento de 12% sobre 2008.
Segundo Hélio Portocarrero, o diretor da FENACAP - Federação Nacional de Capitalização- "...o brasileiro adquiriu o hábito de guardar dinheiro por meio da capitalização".
Na verdade o hábito que o brasileiro não perdeu é o de jogar, de apostar.
Títulos de capitalização são títulos de crédito comercializados por empresas de capitalização, com foco na formação de capital, mas tendo um viés lotérico, com a inclusão de sorteios de prêmios. Ao final da aplicação o investidor recebe parte do seu dinheiro, acrescido dos reajustes.
O "diferencial" dos prêmios sorteados servem para encobrir as desvantagens do produto em relação a qualquer outra aplicação, perdendo até para as contas de poupança.
As chances de ser sorteado são menores que na loteria federal.
O banco responsável pelas títulos fica, em média, com 15% do valor aplicado, devolvendo somente 85% para o aplicador.
Na maioria dos planos os investidores não podem retirar o dinheiro antes do prazo
(normalmente um ano), com isso,os bancos auferem todos os juros do capital, repassando apenas uma menor parte na hora do resgate. A antecipação do resgate fora do prazo acertado gera uma penalidade de até 10% do valor aplicado.
Faça uma experiência. Quando o gerente do seu banco vier lhe oferecer um título de capitalização( eles sempre oferecem), pergunte qual será o rendimento anual sobre o capital investido. A próxima pergunta que você deve fazer é qual a taxa de juros anual cobrado pelo cheque especial. A diferença, somada aos 15% retido na aplicação, é quanto o banco estará ganhando com o seu dinheiro investido.
Para se ter uma idéia, a atual taxa de juro mensal do cheque especial é de 8,79%, ou seja, 174,74% ao ano.
Por mais absurdo que possa ser o resultado, os títulos não são ilegais. A midia está recheada dos anuncios da TeleSena, OuroCap e tantos outros. São regulados e administrados pela SUSEP - Superintendência Nacional de Seguros Privados, autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda.
Caso você seja uma dessas pessoas que querem poupar, mas tenha uma compulsão enorme pelo jogo, a sugestão que fica é: coloque 85% do seu dinheiro na poupança e jogue os outros 15% na loteria federal.O seu ganho com certeza vai ser muito maior.