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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Paul Volcker e a marola...

A entrevista de Paul Volcker, publicada pelo O Estado de S.Paulo, no final de semana passado, deve ser lida e guardada com muita atenção.
Volcker - economista e ex presidente do FED, convocado por Barack Obama para assumir a presidência do Conselho Consultivo de Recuperação Econômica Americana, trouxe a experiência de quem presenciou os maiores desastres econômicos mundiais, incluindo-se aí a Grande Depressão de 1929.
Apesar de afirmar que não podemos comparar a crise de 29 com a atual- hoje o nível de desemprego nos EUA é da ordem de 10%, contra 20% a 25% da anterior, Volcker diz que a hora ainda é de muita cautela.
Segundo ele, a colocação de Bern Bernanke - atual presidente do Federal Reserve-FED, de que a recessão tecnicamente acabou, pode não corresponder aos fatos.
Para Volcker, a recuperação é muito lenta e ainda não é possível descartar uma recaída- "...se não fizermos ajustes e incitarmos novamente o consumo, seguiremos para outra crise".
A palavra tecnicamente pode ter significados muito pitorescos. Como exemplo: você e um amigo compram um frango assado para o jantar, seu amigo come ele inteiro. Tecnicamente - ou matematicamente, variante da expressão, o frango foi consumido entre duas pessoas, portanto, meio frango para cada. Na prática você passou fome.
E o Brasil? Saiu tecnicamente da crise? A marola já passou?
Quando analisou o desequilíbrio econômico americano, Volcker posicionou o problema na seguinte equação: consumo demais e investimento de menos; impostos demais e exportações de menos.
Isso lembra algum outro país?
Acrescentando mais um item - endividamento alto das pessoas físicas, fica mais fácil acertar?
Até quando nosso mercado interno terá força para equilibrar o jogo?
A poupança interna brasileira não é suficiente para financiar o crescimento da nossa economia e os investimentos estrangeiros continuarão a irrigar nossas contas em 2010.
Qual será o preço disso?
Não podemos nos enganar achando que navegamos em mar de almirante. Precisamos dar atenção aos nossos problemas de infraestrutura, das exportações, do desenvolvimento das nossas indústrias e, principalmente, da contenção dos gastos públicos.
Como Paul Volcker constatou "..É espantosa a rapidez com que as pessoas querem esquecer os problemas e voltar aos negócios.."
Problemas não se esquecem, devem ser resolvidos.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A loteria dos economistas

O novo pacote de estímulos ao crescimento econômico, anunciado pelo ministro da Fazenda - Guido Mantega causou divergências entre os economistas.
Parte deles acredita que os estímulos fiscais já fizeram a sua parte, que o consumo está fortalecido e que - a sua continuidade pode fazer mais mal do que bem, para a política monetária.
Na oposição estão aqueles, que acham que o mercado ainda não está forte o suficiente, para dispensar as medidas de apoio. Sustentam que o governo deve enfatizar, também, os incentivos para os bens de capital - os que fazem a produção andar.
Os economistas, desde a hecatombe de Wall Street - que os deixou completamente expostos passaram a evitar o consenso. Na loteria econômica, os palpites são duplos ou triplos.
Para nós - pobre mortais, só nos resta à dúvida de qual jogo apostar. É como se fossemos um paciente, preso a um leito de hospital - todo entubado, cercado por uma junta médica, discutindo se deviam tirar ou não os tubos.
Além da angústia por desconhecer qual é o melhor caminho, o paciente é levado ao desespero, só imaginando o tamanho da conta do hospital, que terá que pagar no futuro.
Esse é o lado grave da questão. O governo parece não dar atenção aos gastos públicos, que veem aumentando em uma velocidade muito perigosa.
A equação, que soma os investimentos necessários para fazer o país andar, ao crescimento dos gastos públicos, pode resultar em uma conta, que o Brasil não está preparado para pagar.
Dessa forma, além de não salvar o paciente, gerará um débito enorme, para toda a família ter que quitar.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A miopia da nossa política externa

Paul Krugman, em sua palestra em São Paulo, levantou questões que não devem ser esquecidas ou deixadas de lado.
Pelo ambiente em que foi proferido o discurso, e, pelo momento atual da economia mundial, é natural que o maior impacto, tenha sido, a afirmação de que o fluxo de dólar para o Brasil é uma bolha.
Nosso impetuoso Ministro da Fazenda- Guido Mantega, rapidamente partiu em defesa da sua cidadela ameaçada - “... ele está preocupado, mas tem investimentos no Brasil", levando a questão para um plano muito mais pessoal, do que no campo dos conceitos.
Discussões à parte é claro que a preocupação deva existir.
Esse tipo de investimento acompanha a "moda". Vem rápido e pode ir embora ainda mais depressa.
É preciso entender, que até prova em contrário, o Brasil é passagem desses investimentos, não destino final.
Nós não devemos - nem podemos, nos tornar reféns dessa situação. A generosa entrada de dólares, aliada a um real extremamente valorizado, não é uma situação permanente.
É como uma empresa que tem todo o seu capital de giro, lastreado por empréstimos bancários. Se por algum motivo, os bancos decidirem cortar os créditos e cobrar a dívida, a empresa quebra.
Mas talvez, a questão mais importante levantada por Krugman - por mais que abale o nosso "orgulho nacional", seja a de que o Brasil não será uma superpotência amanhã.
Isso não quer dizer que não venhamos a ser, mas é um alerta para tomarmos cuidado com os passos necessários para chegarmos até lá.
O nosso caminho está apenas começando. Nossos problemas ainda são gigantescos. Educação, Saúde, Trabalho, Infraestrutura e Habitação, há muito a percorrer antes de pleitearmos a posição.
As riquezas do petrosal são ações, cujos dividendos só poderão ser cobrados daqui vários anos.
Não se pode perder a perspectiva das coisas e do momento brasileiro.
Nossas incursões no campo da política e diplomacia mundial mostraram o quanto um erro de avaliação pode ser danoso.
Os casos Honduras/ Zelaya e Irã/ Mahmou Ahmadinejad deixaram claro a distância existente, entre o peso político que possuímos e aquele que o nosso governo acha que temos.
A sabedoria política está em saber qual batalha merece ser disputada e qual não.
O governo não pode se deixar seduzir pelos brilhos do jogo político internacional. É hora de muito juízo e cautela.
Relembrando o imortal Cartola -" ..o mundo é um moinho, vai triturar teus sonhos, tão mesquinho, vai reduzir as ilusões a pó"

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A "Prece ao Corrupto"

Para aqueles que pensavam já terem visto de tudo em matéria de "mau caratismo" e corrupção política, as imagens mostradas pela televisão - sobre o caso das denúncias contra o governador do Distrito Federal,deixaram claro que sempre é possível apresentar novidades.
José Roberto Arruda(DEM) e a sua quadrilha, quase conseguiram transformar a realidade em ficção, de tão absurdas que foram as cenas apresentadas.
O sentimento de impunidade era tamanho, que os acusados não tiveram o menor escrúpulo ou receio, de comparecerem pessoalmente para dividir o butim.
Cuecas cheias, ora, vamos para as meias. Não importa que os pés que as calçavam, pertencessem a Leonardo Prudente, presidente da Câmara Legislativa.
Agora, a grande cena, foi sem dúvida a da oração. A chamada "Prece ao Corrupto", clamando por proteção ao "santo" Durval Barbosa, levou à todos a um sentimento de estupefação total. A que ponto pode chegar o cinismo dessa gente?
Arruda diz que não aceita ser posto para fora do partido. Afirma que se o DEM radicalizar, vai "botar a boca no trombone", fazendo com que outros caiam e toda a sujeira apareça para o público.
Caso o DEM acate a ameaça e recue, dará uma prova inequívoca de culpa, o que poderá gerar em graves prejuízos nas próximas eleições.
A punição precisa ser rápida e cirúrgica. Não podemos deixar mais esse caso impune, sob o risco de estarmos - mais uma vez, acrescentando anestésico nas veias dos eleitores desiludidos.