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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A morte anunciada

Hoje, dia 29/10, Dia do Livro, a palavra imprensa perde mais um espaço.
A morte anunciada é confirmada e o Jornal da Tarde (JT) do grupo Estado é descontinuado.
Melancólico final de um jornal que foi um marco na imprensa paulistana.
Infelizmente não será o último. Outros certamente seguirão o mesmo caminho.
Enquanto continuarmos discutindo o meio ou a forma e não o conteúdo, a solução será a mesma.
Não são os meios digitais que estão matando o jornalismo impresso, assim como a televisão não matou o rádio.
As pesquisas de opinião pública sempre colocaram o jornal como o veículo de maior credibilidade. Então o que mudou?
Talvez tenha sido o fato de acreditar que o grande inimigo era a internet, quando o real perigo morava dentro de casa.
Se o maior patrimônio dos jornais é a credibilidade, esse é o grande trunfo, esse é o diferencial que as outras mídias não conseguiram conquistar.
Não é a instantaneidade da informação, mas a sua confiabilidade.
O público não quer ver nas páginas do jornal a informação já vista nos sites ou nos telejornais.
O que ele quer, o que ele necessita, é saber de que maneira essa informação vai interferir na sua vida.
Claro que um novo modelo administrativo e de negócios precisa ser concebido. Novos caminhos publicitários precisam ser apresentados.
A fuga dos tradicionais anunciantes do chamado "papel impresso" não é de hoje. E como é sabido pelas pessoas do meio, o chamado varejo de automóveis e imobiliário - grandes frequentadores das páginas dos jornais - com seus descontos astronômicos, jamais ajudaram a fechar a conta.
Não entra dinheiro, demitem-se os jornalistas mais competentes e as redações são entregues para um pessoal mais junior.
Perde-se com isso a memória, perde-se a capacidade de interpretar a informação, perde-se o bem mais precioso, perde-se a Credibilidade.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O verdadeiro voto útil

Estamos a praticamente oito dias da eleição de segundo turno na capital paulista.
Os estandartes na liça continuam os mesmos de sempre - PT e PSDB - respectivamente representados por Fernando Haddad e José Serra.
Mas talvez a grande demonstração de mudanças não tenha sido a meteórica aparição de Celso Russomano, os respingos do mensalão, ou o vou não vou da Marta. Foi a quantidade de votos brancos e nulos dedilhados nas urnas eletrônicas.
A guerra do primeiro turno trouxe um dos mais expressivos Índices de brancos/nulos em uma eleição para prefeito de São Paulo - 2,4 milhões de votos.
Levando-se em conta que José Serra teve 1,8 milhões de votos e Fernando Haddad 1,7 milhões, podemos dizer que o escolhido pela população para ser o novo prefeito de São Paulo foi a dupla brancos e nulos.
Cristalina e transparente indicação de que a população está dando um basta, um “estou de saco cheio de ser obrigado a votar em que não acredito”.
Não levo em consideração o fato de o voto obrigatório ser uma coisa indigesta para a grande maioria dos brasileiros. Não, não é esse o ponto.
A questão que se coloca é a do imenso desgaste e descrédito que a classe política e os partidos tem enfrentado. A falta de novos líderes, pessoas em quem se possa confiar.
Até mesmo o rouba mais faz sumiu de cena. Hoje vivemos o tempo do rouba e não faz.
Sendo o voto a maior manifestação dos desejos da sociedade, a resposta está dada.
Aos que defendem o tal do voto útil, o encaminhamento de votos que pode conduzir o candidato A ou B para a vitória, ou acusam de omissão aos que resolvem não escolher nenhum dos pratos feitos colocados à disposição fica a lição.
Quantas vezes vimos o candidato vitorioso manifestar-se dizendo em alto e bom som o número de votos que o elegeram, confundindo o raciocínio dos mais incautos?
Quantos foram os eleitores que acreditam no candidato e quantos lhe dedicaram o voto por falta de uma opção melhor ou por o considerarem o “menos pior”?
A maioria de brancos e nulos é a exata demonstração do desejo das urnas. É a expressão máxima da verdade popular.
Para utilizarmos a terminologia específica, em uma situação dessas, até o voto inútil é útil.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Casamento Aberto na Imprensa Brasileira




“Pela primeira vez na história da imprensa brasileira, dois dos maiores e mais influentes jornais do país...se unem para fazer um produto editorial único...”

Talvez você possa estar pensando que o texto acima faça parte de um release antigo usado para informar o lançamento do Valor Econômico, fruto da parceria da Folha com o Globo.
Pensou errado.
É o trecho de abertura do editorial de Cley Scholz (Estado) e Cristina Alves (Globo) anunciando hoje – dia 15 de outubro - o lançamento conjunto de uma série de cadernos especiais intitulados “Desafios Brasileiros”.
Com uma tiragem de 500 mil exemplares e circulação simultânea nos dois jornais, “Desafios Brasileiros” unirá as duas redações para elaboração de pautas ligadas à Economia, trazendo entrevistas, análises e opiniões de seus colunistas.
Tem a “cara” do Valor, não é?
Assim como um casal que expõe ao público suas mazelas e discussões, a união da Folha e do Globo, através do seu herdeiro Valor Econômico, sempre transpareceu para o mercado passar por momentos de grandes tensões.
A primeira foi quando o Globo comprou o Diário Popular, agora Diário de São Paulo, colocando um novo diário concorrente dentro do próprio território da Folha.
Na segunda cutucou uma das áreas mais “sensíveis” de todos os jornais diários, os classificados. O Globo novamente se une ao Estadão e criam o ZAP -uma plataforma digital que passou a abrigar os classificados dos dois jornais, deixando de fora da festa, mais uma vez, o seu parceiro de negócios.
Com essa nova parceria com o Estadão o Globo não só atingiu a Folha, como também a sua própria metade do Valor, veículo que por suas próprias características já trata dos temas econômicos e políticos em seu dia a dia.
Não faria mais sentido para produção desses cadernos buscar a união do Valor, Globo e Folha?
Como diria minha santa vovozinha, a gente só procura fora o que não esta encontrando em casa, então.....
Agora, se o que motivou essa nova parceria foi o desespero na busca de novas receitas (o que tem provocado os mais absurdos e mirabolantes planos comerciais), pelo que eu pude observar do novo caderno – com apenas dois anunciantes – parece que a traição não compensou o crime.
Como diria o Tufão, personagem vivido brilhantemente por Murilo Benício na novela Avenida Brasil, ao comer um pedaço da carne horrivelmente preparada pela inexperiente cozinheira:

“ Zezé, essa vaca morreu à toa!”

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Russomano e a cabeça do eleitor

Cabeça de eleitor e bolsa de mulher a gente nunca sabe o que tem dentro.
Nem mesmo os institutos de pesquisa.

O que poderá ter acontecido para que Celso Russomano, líder disparado nas intenções de voto durante toda a campanha política, tenha ficado tão somente com a terceira posição?

Uma campanha apoiada basicamente pelo seu “carisma de apresentador de programas de televisão” e catapultada pela Igreja Universal, mais que um grupo de fé, um dos mais poderosos grupos de comunicação brasileiros.
Essa associação, do mesmo jeito que o conduziu a liderança isolada, pode ter sido o fator decisivo para alijá-lo do segundo turno.
Lá vão três razões:

1 – os outros veículos de comunicação, depois da inércia inicial, perceberam os danos que poderiam ser causados ao seu negócio com a associação entre a fé, comunicação e governo de uma cidade que representa o maior mercado anunciante brasileiro.

2 – os candidatos adversários vendo Russomano - após o inicio da campanha na televisão- subir cada vez mais na pontuação (ao contrário da previsão de todos os marqueteiros de plantão), resolveram na reta final, já com o apoio da mídia desperta, começar os ataques diretos para desconstrução da candidatura adversária.

3 – a igreja católica. Essa talvez tenha sido a primeira a perceber o perigo representado pela vitória de Russomano e da
Igreja Universal. Ao ver a grande aliança de igrejas que estava se formando em apoio ao candidato, partiu para o confronto, não sem antes convocar toda a horda de arcanjos, querubins e agregados. Como a maioria da população brasileira é católica, apesar de fazer uma “fezinha” na umbanda, espiritismo, pentecostais, judaísmo e outras tantas, a candidatura de Russomano sofreu um abalo comprovadamente irreversível.

Afinal esse é um país onde os próprios ateus estão sempre a pedir a ajuda divina, não é?