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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Grécia e o Euro. Um presente de grego?

A atual crise do euro, que coloca em risco a viabilidade de uma moeda comum européia, tendo a Grécia como principal destaque, atingindo ainda fortemente o grupo de países intitulado PIIGS - Portugal,Irlanda,Itália, Grécia e Espanha (Spain)-, teve, de fato, origem na própria formação.
Colocar países - que não estão no mesmo estágio de amadurecimento industrial, político, financeiro e econômico - em uma mesma cesta, ditando regras e metas comuns à todos, é tão temerário como entrar em um jogo de poquêr com cacife pequeno e enfrentar jogadores sem limites para gastar. Primeiro você gasta as suas fichas, depois se endivida para acompanhar o jogo dos seus adversários, tentando adiar o fim que é inevitável,a quebra da sua banca.
E para comprovar essa verdade, 12 dos 16 países europeus que utilizam o euro como moeda, estão sob investigação por déficits enormes em suas contas.
Reformas estruturais, demandas e consumos internos em diferentes estágios, mão de obras com fatores de correções distintos, índices de produtividade desbalanceados, tudo isso acabou gerando custos de produção de bens e serviços diferenciados. Uns países exportando muito e outros pouco.
Menores custos, maiores exportações. Vendas em alta, maior entrada de recursos, maior produção, diminuição de custos, exportação crescendo - o círculo virtuoso.
Agora com uma moeda única, não resta a alternativa - aos países menos favorecidos, de desvalorizar a sua própria moeda na tentativa de melhorar a competitividade dos seus produtos (tática aliás muito usada pela China, que ao manter a sua moeda desvalorizada em relação ao dolar, consegue manter o preço dos seus produtos muito abaixo daqueles praticados pelos principais produtores do mundo).
Assim, aqueles países que no início estavam em melhores condições, conseguiram fazer a lição de casa melhor e aumentaram ainda mais a distância dos outros, tornando a desigualdade um fato consumado.
A bomba está armada, cabe a o belga Herman Van Rumpuy - atual presidente da União Européia- convocar os demais integrantes e tentar desarmá-la.
A saída?
É política. É dar o real sentido ao nome União Européia. Não um grupo, mas uma união verdadeira. É enxergar as diferenças e aplainá-las em um esforço comum.
Não se tornam países e - principalmente - economias, iguais por decreto. Não se dá a largada a uma corrida, sem antes aguardar que todos os carros estejam alinhados no grid.
A Grécia é apenas o sintoma. Que seja tratada a doença.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Caçambas e outros entulhos

O princípio de toda boa convivência é respeitar o espaço do outro, sempre.
Um regra raramente aceita pelo ser humano, que parece ter adotado a "lei de Gérson" como lema de vida. A preocupação com o bem estar coletivo é abandonada pela vontade individual.
Leis e mais leis são criadas para serem descumpridas, burladas ou até mesmo esquecidas.
Para que uma lei tenha força e seja respeitada precisa ser fiscalizada, as suas infrações prontamente punidas. A falta da punição leva a lei ao descrédito.
Os exemplos estão por aí, ao alcance dos nossos olhos, basta uma simples caminhada por qualquer rua do nosso próprio bairro. Cadeiras e mesas colocadas por bares em vias públicas, o som alto do vizinho do lado, latinhas de cerveja e pitucas atiradas na calçada, carros em fila dupla, o lixo mal acondicionado a espera da próxima chuva, enfim, uma enorme demonstração de desrespeito as leis e as normas de civilidade.
Recentemente vimos na televisão o destino dado ao entulho retirado por caminhões, das obras que estavam sendo realizadas no Parque Villa Lobos,de administração do governo do Estado, na zona oeste da capital.
Ora, se o governo larga o seu entulho no terreno público, porque eu não posso jogar, em qualquer esquina, esse sofázinho velho?
Mais uma vez, o "Gerson" entra em campo (maldita hora que um dos maiores jogadores do futebol brasileiro resolveu fazer aquele comercial!).
Um outro exemplo da lei "eu resolvo o meu lado, você que se vire!", está no absurdo sistema de recolhimento de entulhos através de caçambas.
O Decreto nº 46.594 - 3 de novembro de 2005, assinado pelo então prefeito José Serra,
que regula a coleta, o transporte, o tratamento e a disposição final dos chamados resíduos inertes, deve ser um dos campeões do desrespeito.
Senão vejamos:

Art. 13 - os resíduos sólidos inertes coletados e transportados pelos autorizatários somente poderão ser destinados aos locais devidamente licenciados pelos orgãos competentes...

De acordo com o que vimos no caso dos caminhões do Villa Lobos, aquele terreno na esquina de uma via pública, talvez seja "licenciado", certo?

Art.18 - o período de permanência máximo de cada caçamba em vias públicas é de 72 horas....

As caçambas permanecem tanto tempo nas ruas, que muitas vezes são usadas até por outras obras, "clandestinas" ao contrato, que na calada da noite despejam os seus entulhos.

Art.20 - A colocação de caçambas para coleta de resíduos inertes no leito carroçavel da via, somente será permitida quando não for possível sua colocação nos recuos frontal ou lateral da testada do imóvel....

Quantas caçambas, que caberiam perfeitamente dentro da área do imóvel em reforma, você já não viu colocadas na via pública, promovendo transtornos enormes no já caótico trânsito paulistano?

Para completar, a lei que determinou horários específicos para o deslocamento de caminhões em São Paulo, fez com que a retirada dessas caçambas só possa ser realizada entre a noite e a madrugada - o mesmo novo horário dos caminhões de lixo - acrescentando mais uma perturbação ao já sofrido sono dos habitantes de São Paulo.

E aonde está a fiscalização?
Com certeza dormindo, afinal, ninguém é de ferro!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A Força Pública do Serra

Será que se o governador do Distrito Federal José Arruda passasse a se chamar São Francisco de Assis, ele se desfaria de todas as suas riquezas terrenas e sairia distribuindo bondades pelo mundo?
Provavelmente não, afinal, quem nasceu para Ali Babá não perde nunca o gosto pelo butim - nem a companhia dos quarenta amigos.
Buscando a mesma linha de raciocínio,mas, não querendo semelhanças com o exemplo acima, a mudança do nome da Polícia Militar de São Paulo em Força Pública não fará dela um padrão de conduta e comportamento.
A Proposta de Emenda Constitucional, encaminhada à Assembleia Legislativa pelo governador José Serra, precisará mais que os dois terços de votos dos deputados para ser aprovada pela população. Necessitará de uma real mudança de postura e comportamento, tanto de seus componentes como do próprio governo.
Antes de tudo, uma avaliação profunda, que separe e exclua do seio da corporação, todos aqueles que não usarem os uniformes respeitando seus valores e princípios, preservando e garantindo os direitos do homem,do cidadão e da comunidade.
Treinamento, motivação e valorização são os passos seguintes. Uma remuneração apropriada, que permita viver com um mínimo de dignidade, sem a necessidade da carga extra dos chamados "bicos" ou, o que é pior, a conivência com o crime que eles mesmos deveriam coibir.
Aí talvez, possamos ter de volta aquela polícia, que os mais antigos - como eu - conheceram ainda sob o nome de Força Pública. Homens que faziam parte da comunidade em que estavam inseridos.
Uma nova polícia, respeitada pela população e conseguindo alcançar os mesmos padrões de admiração que seus irmãos bombeiros.
Mas para isso, a real força que esses policiais necessitam hoje é a força política, aquela que permite transformar e criar o novo. Aliás, a mesma força que tanto tem feito falta aos nossos professores - carentes, despreparados e desmotivados.
Atingindo esses objetivos o nome não será o mais importante. Quem sabe possamos chamá-la até de Força Amiga, ou até mesmo - Guarda Pública - ficando assim claro quem deveria ser o alvo da sua proteção.