O Senado Federal, em uma demonstração de "sintonia absoluta" com os principais problemas brasileiros, acaba de aprovar a criação, por projeto de lei, da mais rentável empresa brasileira – Garçom S.A.
O projeto aprovado dia 10/03, prevê o aumento da gorjeta, de 10% para 20% (contas fechadas após ás 23:00 hs), para profissionais de bares, restaurantes e similares.
De autoria do senador Marcelo Crivella (PRB), o projeto também passa a incluir a gorjeta nos cálculos trabalhistas – FGTS, férias e 13º.
Claro, dirão os defensores, que como a gorjeta não é obrigatória, ninguém é obrigado a pagar. Que só incide em contas fechadas após as 23:00hs.
Mas, qual é a parcela da população que, passando por cima do constrangimento, não paga hoje os 10% de taxa?
Qual é a proporção de contas fechadas em bares e restaurantes antes e depois das 23:00 hs?
Alguma dúvida sobre a possibilidade dos 20% virar regra geral, não importando o horário?
Claro que sempre é possível você chegar ao seu bar ou restaurante favorito – antes das 23 horas – pedir tudo que vai consumir durante a noite e já mandar fechar a conta, não é?
Partindo do raciocínio que uma empresa que gera um lucro anual entre 18% a 20% é extremamente lucrativa, gerar 20% de lucro líquido faz de qualquer empresa uma mina de ouro.
Mesmo em um mercado em que os números são sempre difíceis de apurar, alguns dados podem ser usados para dar a dimensão do faturamento do setor.
Segundo pesquisa realizada pelo Grupo GfK -a quarta maior empresa de pesquisa de mercado do mundo - hoje, 12% da população brasileira come fora de casa, com um gasto semanal de R$ 67,13 por pessoa.
São vinte e dois milhões e oitocentas mil pessoas gastando R$ 6, 122 bilhões por mês ou R$ 73,4 bilhões por ano. Esse valor anual é maior que os R$ 58,5 bilhões que são gastos com vestuário confeccionado e os R$ 32,9 bilhões com mobiliário e artigos do lar (fonte Target).
Não está incluído nesses valores o faturamento dos bares e assemelhados.
Portanto, considerando o resultado de R$ 73,4 bilhões gastos com refeições, a nova gorjeta poderá gerar um faturamento de R$ 14,6 bilhões anuais.
Como comparação,o Banco do Brasil, melhor resultado entre os bancos brasileiros, apresentou um lucro de R$ 10 bilhões em 2009.
Poderá gerar? Sim, porque o tiro pode sair pela culatra. A revolta contra os novos valores provavelmente fará com que a grande maioria dos consumidores deixe de pagar à atual e a nova taxa aprovada.
A manifestação dos garçons a semana passada, em frente ao Congresso Nacional, reivindicava simplesmente o recebimento dos 10% da gorjeta, não o seu aumento. Como é sabido, os 10% atuais servem muito mais para engordar o bolso dos patrões, do que os paupérrimos salários pagos a esses profissionais. Agora 20%??
Qual é a chance de quem já não recebe 10%, passar a receber 20%?
Lembra a história de um diretor, recém empossado no comando de uma equipe comercial, que ao constatar o desânimo do pessoal, que já estava a um bom tempo sem receber salário, chama o líder dos vendedores para uma "injeção de moral" em sua sala.
"Olha, Carlos, estava examinando o seu histórico na empresa e constatei que você ganha R$ 3 mil reais por mês. Acho que isso é muito pouco para uma pessoa com as suas qualificações. Portanto, á partir do mês que vem, o seu salário passa a ser de R$ 6 mil reais!"
"Chefe, não querendo parecer mal agradecido, vou recusar esse aumento".
"Mas como? Você recusa o aumento?".
"Recuso sim. Veja bem, R$ 3 mil eu aguento ficar sem receber, mas com R$ 6 mil eu quebro!"
sexta-feira, 12 de março de 2010
Fundada a Garçom S.A.
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