O poder transformador da mídia sobre as pessoas é realmente assustador.
Ela pode distorcer a lógica, inverter pensamentos, trazendo à tona preconceitos que flutuam no subliminar das mensagens que são proferidas.
Não, apesar do tempo que estamos vivendo, não estou falando das eleições ou da esgrima marketineana praticada pelos comandos das campanhas presidenciais, muitas vezes sem a fleuma original desse nobre esporte.
Falo do poder exercido sobre a grande massa da população brasileira, que exposta a uma imensa gama de informações através dos meios de comunicação e não guardando a distância necessária para uma análise isenta, acaba por adquirir novos valores e atitudes que na maioria das vezes são opostos a sua crença e educação.
Essa semana, almoçando em um desses restaurantes fast food, encontro um grupo de quatro rapazes na mesa ao lado.
Três deles eram mais jovens, vestidos de jeans e camisetas. O outro, que aparentava ser o chefe deles, de terno e gravata. Discussão acalorada, um deles fazia a defesa de seus pensamentos, em uma possível tentativa de impressionar o chefe, com os seus conhecimentos e avaliações dos temas do noticiário.
Curioso que sou, bisbilhotices à parte, coloco atenção na conversa.
".....é, mas essa tal da Tânia Bulhões tem dinheiro, consegue os melhores advogados. Coloca a culpa nos funcionários, faz um acordo e sai fora da cadeia...."
" É, com dinheiro se consegue tudo nesse país!"
" E essa tal de Mercia Nakashima? Quem era essa mulher?"
"Apenas mais uma que morreu apanhando do marido. Nada de excepcional!"
"É isso mesmo, quem ela é para ter todo esse espaço na mídia? Nem mesmo como advogada ela era conhecida!"
Afinal, qual é a queixa?
Que famosos e endinheirados naturalmente tenham espaço na mídia e os pobres e desconhecidos permaneçam no anonimato?
Que a notoriedade da vitima prevaleça sobre a importância do crime?
A mesma pessoa que lamenta que o dinheiro e a posição social sirvam para livrar o criminoso do castigo severo é aquela que condena a exposição midiática de crimes de pessoas menos famosas.
Uma pessoa como ela, classe média, trabalhadora, que tinha a sua família e seus sonhos.
Sem querer entrar nos méritos de cada questão, a mídia que deu espaço para a Tânia fez o mesmo com a Mercia.
Uma, pela posição social que ocupa pode gozar de privilégios e concessões. A outra, ora a outra, quem é ela mesmo? Mais uma que morreu apanhando do marido?
Passamos a ver as barbaridades e crimes cometidos, sejam eles de qualquer natureza, como se fossem ficção, entretenimento, um filme.
Em algum momento do processo de comunicação, a repetição dos fatos e a constante impunidade, fez com que a informação nos conduzisse a uma completa letargia.
Adquirimos um novo senso de valores. É a fama pela fama.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
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