Translate

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

"Fecham-se as cortinas..."

Hoje, lembrei-me de um dos maiores narradores esportivos do rádio brasileiro - Fiori Giglioti.
Um profissional capaz de transmitir um lance de uma partida de futebol com tamanha perfeição que parecia que estávamos no próprio campo de futebol, observando cada detalhe da jogada.
É dele o famoso bordão “abrem-se as cortinas e começa o espetáculo", início de todas as suas transmissões.
Sim, porque isso foi o que sempre significou o futebol. Um maravilhoso espetáculo executado por um grupo de artistas, pintando com cores inimagináveis, as suas mais belas jogadas, fazendo desse esporte um momento de pura devoção.
Pelé, Garrincha, Didi, Rivelino, Gérson e tantos outros, que a cada domingo, como se fosse uma procissão, transportavam multidões aos estádios, todos sempre a espera da jogada inesquecível.
A bola parecia fazer parte de seus corpos, uma extensão das próprias pernas, tal era a cumplicidade e reverência com que era tratada.
Transformado em business, o futebol perdeu um pouco da sua paixão, do seu atrevimento.
Os artistas cederam lugar para os guerreiros, cada partida uma batalha, a magia sendo trocada pela eficiência espartana, regras do novo negócio.
Mas, os deuses do futebol, saudosistas que são, volta e meia enviam aqui para a Terra, artistas dispostos a transgredir as determinações estabelecidas.
Aparecem os Maradonas, Zicos, Rivaldos, Messis, Romários, que com genialidade desconcertante, desafiam todas as táticas planejadas. Surgem para lembrar que o prazer da arte sempre será maior que o simples e mecânico resultado.
Espalham a sua magia por todo o mundo, fazendo ressuscitar em nossos corações a velha chama da paixão.
Como filhos dos deuses do futebol são reverenciados por todas as nações. Reis, príncipes e presidentes estão sempre dispostos a adulá-los, na tentativa inútil de transferir a popularidade alcançada por esses ídolos, as suas nem sempre honestas condutas.
Só que até mesmo filhos de deuses têm prazo de validade. Nem mesmo eles resistem ao tempo.
Ontem foi o dia de mais um desses heróis tirarem o seu manto de divindade e voltar a ser um simples mortal.
O menino do São Cristovão que conquistou o mundo.
Talvez ninguém tenha personificado tão bem o encontro do passado com o futebol moderno como ele.
A irreverência dos antigos com a força dos deuses de hoje. Uma dádiva que fez dele um ídolo de todas as bandeiras, até mesmo de equipes rivais as quais serviu.
Agora ele se retira. Mais uma vez o tempo foi implacável. mais uma vez nos deixou órfãos.
Resta um vazio. Um vazio e a esperança que os deuses se compadeçam das nossas aflições e enviem mais um de seus filhos. Alguém que nos faça acreditar que a magia nunca termina.
A cortina se fechou pondo fim ao espetáculo.
Eu, como milhares de outros torcedores, permaneço na platéia. Silencioso, na espera da cortina novamente se abrir e poder mais uma vez levar aos campos toda a minha emoção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário