No mundo do teatro e da televisão, "entrar na personagem" significa o estado perfeito da arte. O instante em que a personagem toma conta de seu físico e da sua mente. Seus pensamentos e atitudes passam a ser comandados pela personagem.
Trejeitos, expressões,olhares e até bordões acabam por dar o toque final.
Quem não se lembra do chacoalhar de pulseiras do Sinhozinho Malta, da sobrancelha erguida do Alberto Roberto, de bordões como " sou, mas quem não é?", "ele é boko moko", "vamos deixar os entretantos e os emboramente e vamos pros finalmente".
Alguns de triste memória como "gosto de levar vantagem em tudo", assinatura de uma campanha de cigarros, que acabou transferindo para a pessoa do jogador de futebol Gerson- e por "tabela" para o povo brasileiro, uma imagem extremamente negativa.
Às vezes a personagem toma uma dimensão tão grande, que para não haver uma submissão total, é necessário marcar uma divisão clara entre os dois. Caso do Edson Arantes do Nascimento que cita sempre o Pelé na terceira pessoa.
Na verdade, enquanto estiver agradando o público e o Ibope estiver em ritmo de subida, é muito difícil que essa separação seja feita.
Acredito ser esse o caso do nosso presidente.
Lula conseguiu construir uma personagem tão forte e tão ao agrado do povo brasileiro que as imagens do político e da personagem se fundiram.
Ele é o povo que tem voz. O povo que não tem medo do que fala e por isso fala o que quer.
É aí que mora o perigo.Quando o político experiente que ele é, não consegue conter a fala da sua personagem.
Claro, já estamos acostumados com as "marolas", "loiros de olhos azuis" e outras tantas frases ditas diariamente pela personagem. Já fazem parte do folclore nacional.
Mas essa semana o político não pode controlar a sua criação.
Depois do "...a França irá indenizar as famílias brasileiras e francesas", e "...o presidente Sarkozy está muito solidário com os brasileiros", deixou a mais cruel para a eleição do Irã.
Por mais que possa existir uma relação fraterna entre Lula e o seu colega iraniano Mahmound Ahmadinejad, um verdadeiro estadista tinha que conter suas impensadas expressões.
Achar que centena de milhares de pessoas em manisfestação nas ruas de Teerã, com dezenas de feridos e a morte de sete pessoas, seja apenas "choro de perdedores" ou simplesmente um Flamengo e Vasco, não cabe na boca de nenhum político no mundo.
Nessas horas é necessário que o ator procure o seu diretor para uma reflexão ou que abandone o improviso.
Caso contrário, a personagem irá eliminar o político.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
A personagem e a pessoa
Marcadores:
ibope,
lula,
memória,
pelé,
pensamentos,
personagem,
politico,
povo,
presidente
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Adorei o texto... comparação muito bem feita!
ResponderExcluirVisitarei sempre pra ler os próximos textos...
beijos
Denise Gaccione