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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O discurso e os números




“Quando político é denunciado a cara dele sai noite e dia nos jornais. Vocês já viram banqueiros nos jornais? São eles que pagam as publicidades da mídia.”
A colocação feita pelo ex presidente Lula na conferência em Paris, carece, no mínimo, de dados, que uma simples pesquisa na internet poderia fornecer.
Uma coisa aprendi em todos esses anos trabalhando com jornalismo – ainda que na área comercial – uma informação para ser passada necessita de confirmação, de dados que a sustentem e comprovem.
Então vamos lá.
Segundo dados do Ibope Monitor, os bancos que mais investiram em publicidade em 2011 foram:

Caixa Econômica Federal R$ 1.092.777.000,00

Bradesco R$ 905.062.000,00

Itaú R$ 624.873.000,00

Banco do Brasil R$ 587.519.000,00

Somando-se bancos estatais e privados, a dupla do governo federal Caixa/Banco do Brasil investiu R$ 1.680.296.000,00 contra R$ 1.529.935.000,00 do Bradesco/Itaú, ou seja, uma diferença de mais de R$ 150 milhões a favor da dupla estatal, para a alegria dos setores comerciais dos veículos.
Quanto ao fato dos banqueiros nunca aparecerem nas páginas policiais dos jornais, as provas em contrários são inúmeras.
Magalhães Pinto do Banco Nacional, Calmon de Sá do Banco Econômico, Arthur Falk do Interunion, Salvatore Cacciola do Marka, Edemar Cid Ferreira do Banco Santos, Daniel Dantas do Opportunity e, até mesmo Silvio Santos, o todo poderoso de um dos maiores grupos de mídia brasileiros, teve a sua imagem inúmeras vezes exposta nas páginas de jornais, revistas e televisões.
Portanto, para se ter a notícia é necessário haver o fato. Claro, sem sermos ingênuos, é possível até “forjar” uma situação, mas com uma análise isenta e competente das provas, a verdade sempre surge.
Pelo visto, nesse imbróglio geral que tem sido apresentado a população brasileira, provas é o que não faltam.



quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O quarto poder

Os inimigos do progresso brasileiro são “a mídia monopolizada e o Judiciário conservador” – Rui Falcão, presidente nacional do PT.
O tripé de uma democracia é formado pelo Executivo, Legislativo e Judiciário.
No caso brasileiro o Executivo é comandado por uma filiada do partido. O Legislativo (monopolizado) responde em 99% das situações de acordo com os interesses do PT (estou fazendo aqui uma reserva de 1% para uso em interesses pessoais dos legisladores, se bem que nesse caso é quase a mesma coisa) é a culpa é do Judiciário, que em sua grande maioria foi indicada pelo próprio PT?
Quanto à mídia, está certo que nos Estados Unidos ela é considerada o quarto poder, mas para mostrar o incêndio, hay que tener fogo, ou não?



segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Aos amigos palmeirenses.

Não sou contra as chamadas gozações esportivas.


Elas fazem parte do espírito do brasileiro. Sempre freqüentaram as mesas dos bares, os cafezinhos dos escritórios, os churrascos do fim de semana.
As noites de domingo, dependendo dos resultados da rodada, sempre será mais feliz ou mais cruel para os que aguardam a segunda feira, como vitoriosos ou derrotados.
Afinal, hoje é o meu dia amanhã o seu, não é assim?
Falo de peito aberto porque faço parte de uma geração acostumada a ir aos estádios para assistir as partidas sem separação das torcidas. Lado a lado com os amigos ou torcedores adversários, com camisas diferentes, mas com a mesma paixão pelo futebol.
Um drible desconcertante, um chapéu inesperado, o gol, tudo era motivo para brincar com o “freguês” ao lado. Depois do jogo lá íamos nós, vencedores e vencidos juntos, cada um em busca do meio de transporte que nos conduzisse para casa.
Infelizmente hoje tudo é muito diferente. Os campos de futebol tornaram-se arenas de guerra.
As torcidas armadas para a luta não esperam mais o apito do arbitro que dará início a partida. Gasolina pura esperam tão somente a pequena faísca que dará início ao incêndio.
O resultado do jogo fica em segundo plano. Seu time ganhando ou perdendo, tanto faz, o que vale é a guerra. É o momento em que as pessoas esquecem-se da sua condição de ser humano e transformam-se em feras irracionais. O torcedor adversário vira inimigo a ser abatido.
Lamentável, realmente lamentável. Principalmente se analisarmos que ao final de cada partida, os jogadores – salvo raríssimas vezes – trocam suas camisas, abraçam-se em comemoração.
Ali estão profissionais, companheiros de outras equipes, que entendem que o seu trabalho não passa de um jogo, um espetáculo que tem por finalidade única levar o divertimento para todos da “platéia”.
O que precisa ter fim é esse estado de guerra permanente, não a gozação.
Eu me reservo o direito de contar todas as piadas possíveis, assim como já ouvi outras tantas.
Já cai e já subi. Chorei e já sorri (se você pensou que vinha um Roberto Carlos, enganou-se).
Assim como a vida, o futebol é uma questão de fase, de momentos.
As gozações fazem parte da alegria, fazem parte da vida.
E vamos lá que hoje é segunda.....

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Uma situação Lewandowskiniana

O resultado do julgamento da partida entre o Palmeiras e o Internacional marcado para esse mês pode do ponto de vista prático, não modificar absolutamente nada.
O abatimento moral da equipe alviverde é tão grande, que a cada partida a queda para a série B do campeonato brasileiro parece mais próxima.
Mas... existe sempre um mas, o julgamento que pode não ajudar o Palmeiras, com certeza abre um discussão que pode provocar mudanças e jurisprudência importantes no futebol.
A alegação palmeirense é de erro de direito. O árbitro Francisco Carlos Nascimento após validar o gol do atacante Barcos, voltou atrás ao ser alertado pelo quarto árbitro que o gol teria sido feito com a mão, portanto ilegal.
Até aí tudo normal, não fosse o fato de que o quarto árbitro teria obtido a informação através das imagens da televisão, coisa que não é permitida pela FIFA.
O irônico é que há duas semanas, em um jogo do campeonato italiano, o atacante Klose do Lazio, ao fazer um gol com a mão, também confirmado pelo árbitro, confessou a infração em tempo de o gol ser anulado. Seu time perdeu a partida para o Napoli por 3 x 0.
Claro que Klose é alemão e o Barcos argentino, terra de Maradona o inventor da “Mano de Dios”.
A situação do STJD é complicada.
Caso haja a confirmação da interferência externa na anulação do gol, o STJD deve, pelas regras da FIFA, anular o anulado, ou seja, dar ganho de causa ao Palmeiras, cancelando o resultado e provavelmente promovendo uma nova partida.
Isso após todas as imagens das televisões comprovarem que o gol foi realmente feito com a mão, portanto, seria absolver uma ilegalidade com provas irrefutáveis.
Realmente uma situação que só mesmo o ministro do STF, Ricardo Lewandowski, poderia dar um jeito.
Para os que conhecem os meandros do STJD, a aposta é que a tática a ser usada será “empurrar com a barriga” o julgamento, torcendo a cada jogo para que o pesadelo palmeirense seja confirmado, evitando assim uma decisão que provavelmente levaria meses para ser resolvida.
Para os apaixonados torcedores do futebol, o erro humano sempre fez parte do esporte. É material combustível para as discussões nas mesas dos bares, para as tradicionais gozações com os perdedores. Não existe máquina do tempo que possa voltar e corrigir erros cometidos no passado.
Senão, vejamos.
Barcos, ao colocar a mão na bola para marcar o gol, tentou ludibriar o árbitro, tentativa que pelas regras garantem a aplicação de cartão amarelo para o infrator.
Caso o árbitro Francisco Carlos Nascimento tivesse aplicado o cartão, seria o terceiro cartão amarelo de Barcos, o que o retiraria automaticamente da partida seguinte contra o Botafogo, jogo em que o atacante fez os dois gols no empate com o alvinegro carioca.
Caberia ao Botafogo recorrer contra o resultado no STJD?









segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A morte anunciada

Hoje, dia 29/10, Dia do Livro, a palavra imprensa perde mais um espaço.
A morte anunciada é confirmada e o Jornal da Tarde (JT) do grupo Estado é descontinuado.
Melancólico final de um jornal que foi um marco na imprensa paulistana.
Infelizmente não será o último. Outros certamente seguirão o mesmo caminho.
Enquanto continuarmos discutindo o meio ou a forma e não o conteúdo, a solução será a mesma.
Não são os meios digitais que estão matando o jornalismo impresso, assim como a televisão não matou o rádio.
As pesquisas de opinião pública sempre colocaram o jornal como o veículo de maior credibilidade. Então o que mudou?
Talvez tenha sido o fato de acreditar que o grande inimigo era a internet, quando o real perigo morava dentro de casa.
Se o maior patrimônio dos jornais é a credibilidade, esse é o grande trunfo, esse é o diferencial que as outras mídias não conseguiram conquistar.
Não é a instantaneidade da informação, mas a sua confiabilidade.
O público não quer ver nas páginas do jornal a informação já vista nos sites ou nos telejornais.
O que ele quer, o que ele necessita, é saber de que maneira essa informação vai interferir na sua vida.
Claro que um novo modelo administrativo e de negócios precisa ser concebido. Novos caminhos publicitários precisam ser apresentados.
A fuga dos tradicionais anunciantes do chamado "papel impresso" não é de hoje. E como é sabido pelas pessoas do meio, o chamado varejo de automóveis e imobiliário - grandes frequentadores das páginas dos jornais - com seus descontos astronômicos, jamais ajudaram a fechar a conta.
Não entra dinheiro, demitem-se os jornalistas mais competentes e as redações são entregues para um pessoal mais junior.
Perde-se com isso a memória, perde-se a capacidade de interpretar a informação, perde-se o bem mais precioso, perde-se a Credibilidade.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O verdadeiro voto útil

Estamos a praticamente oito dias da eleição de segundo turno na capital paulista.
Os estandartes na liça continuam os mesmos de sempre - PT e PSDB - respectivamente representados por Fernando Haddad e José Serra.
Mas talvez a grande demonstração de mudanças não tenha sido a meteórica aparição de Celso Russomano, os respingos do mensalão, ou o vou não vou da Marta. Foi a quantidade de votos brancos e nulos dedilhados nas urnas eletrônicas.
A guerra do primeiro turno trouxe um dos mais expressivos Índices de brancos/nulos em uma eleição para prefeito de São Paulo - 2,4 milhões de votos.
Levando-se em conta que José Serra teve 1,8 milhões de votos e Fernando Haddad 1,7 milhões, podemos dizer que o escolhido pela população para ser o novo prefeito de São Paulo foi a dupla brancos e nulos.
Cristalina e transparente indicação de que a população está dando um basta, um “estou de saco cheio de ser obrigado a votar em que não acredito”.
Não levo em consideração o fato de o voto obrigatório ser uma coisa indigesta para a grande maioria dos brasileiros. Não, não é esse o ponto.
A questão que se coloca é a do imenso desgaste e descrédito que a classe política e os partidos tem enfrentado. A falta de novos líderes, pessoas em quem se possa confiar.
Até mesmo o rouba mais faz sumiu de cena. Hoje vivemos o tempo do rouba e não faz.
Sendo o voto a maior manifestação dos desejos da sociedade, a resposta está dada.
Aos que defendem o tal do voto útil, o encaminhamento de votos que pode conduzir o candidato A ou B para a vitória, ou acusam de omissão aos que resolvem não escolher nenhum dos pratos feitos colocados à disposição fica a lição.
Quantas vezes vimos o candidato vitorioso manifestar-se dizendo em alto e bom som o número de votos que o elegeram, confundindo o raciocínio dos mais incautos?
Quantos foram os eleitores que acreditam no candidato e quantos lhe dedicaram o voto por falta de uma opção melhor ou por o considerarem o “menos pior”?
A maioria de brancos e nulos é a exata demonstração do desejo das urnas. É a expressão máxima da verdade popular.
Para utilizarmos a terminologia específica, em uma situação dessas, até o voto inútil é útil.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Casamento Aberto na Imprensa Brasileira




“Pela primeira vez na história da imprensa brasileira, dois dos maiores e mais influentes jornais do país...se unem para fazer um produto editorial único...”

Talvez você possa estar pensando que o texto acima faça parte de um release antigo usado para informar o lançamento do Valor Econômico, fruto da parceria da Folha com o Globo.
Pensou errado.
É o trecho de abertura do editorial de Cley Scholz (Estado) e Cristina Alves (Globo) anunciando hoje – dia 15 de outubro - o lançamento conjunto de uma série de cadernos especiais intitulados “Desafios Brasileiros”.
Com uma tiragem de 500 mil exemplares e circulação simultânea nos dois jornais, “Desafios Brasileiros” unirá as duas redações para elaboração de pautas ligadas à Economia, trazendo entrevistas, análises e opiniões de seus colunistas.
Tem a “cara” do Valor, não é?
Assim como um casal que expõe ao público suas mazelas e discussões, a união da Folha e do Globo, através do seu herdeiro Valor Econômico, sempre transpareceu para o mercado passar por momentos de grandes tensões.
A primeira foi quando o Globo comprou o Diário Popular, agora Diário de São Paulo, colocando um novo diário concorrente dentro do próprio território da Folha.
Na segunda cutucou uma das áreas mais “sensíveis” de todos os jornais diários, os classificados. O Globo novamente se une ao Estadão e criam o ZAP -uma plataforma digital que passou a abrigar os classificados dos dois jornais, deixando de fora da festa, mais uma vez, o seu parceiro de negócios.
Com essa nova parceria com o Estadão o Globo não só atingiu a Folha, como também a sua própria metade do Valor, veículo que por suas próprias características já trata dos temas econômicos e políticos em seu dia a dia.
Não faria mais sentido para produção desses cadernos buscar a união do Valor, Globo e Folha?
Como diria minha santa vovozinha, a gente só procura fora o que não esta encontrando em casa, então.....
Agora, se o que motivou essa nova parceria foi o desespero na busca de novas receitas (o que tem provocado os mais absurdos e mirabolantes planos comerciais), pelo que eu pude observar do novo caderno – com apenas dois anunciantes – parece que a traição não compensou o crime.
Como diria o Tufão, personagem vivido brilhantemente por Murilo Benício na novela Avenida Brasil, ao comer um pedaço da carne horrivelmente preparada pela inexperiente cozinheira:

“ Zezé, essa vaca morreu à toa!”

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Russomano e a cabeça do eleitor

Cabeça de eleitor e bolsa de mulher a gente nunca sabe o que tem dentro.
Nem mesmo os institutos de pesquisa.

O que poderá ter acontecido para que Celso Russomano, líder disparado nas intenções de voto durante toda a campanha política, tenha ficado tão somente com a terceira posição?

Uma campanha apoiada basicamente pelo seu “carisma de apresentador de programas de televisão” e catapultada pela Igreja Universal, mais que um grupo de fé, um dos mais poderosos grupos de comunicação brasileiros.
Essa associação, do mesmo jeito que o conduziu a liderança isolada, pode ter sido o fator decisivo para alijá-lo do segundo turno.
Lá vão três razões:

1 – os outros veículos de comunicação, depois da inércia inicial, perceberam os danos que poderiam ser causados ao seu negócio com a associação entre a fé, comunicação e governo de uma cidade que representa o maior mercado anunciante brasileiro.

2 – os candidatos adversários vendo Russomano - após o inicio da campanha na televisão- subir cada vez mais na pontuação (ao contrário da previsão de todos os marqueteiros de plantão), resolveram na reta final, já com o apoio da mídia desperta, começar os ataques diretos para desconstrução da candidatura adversária.

3 – a igreja católica. Essa talvez tenha sido a primeira a perceber o perigo representado pela vitória de Russomano e da
Igreja Universal. Ao ver a grande aliança de igrejas que estava se formando em apoio ao candidato, partiu para o confronto, não sem antes convocar toda a horda de arcanjos, querubins e agregados. Como a maioria da população brasileira é católica, apesar de fazer uma “fezinha” na umbanda, espiritismo, pentecostais, judaísmo e outras tantas, a candidatura de Russomano sofreu um abalo comprovadamente irreversível.

Afinal esse é um país onde os próprios ateus estão sempre a pedir a ajuda divina, não é?

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O Brasil e as suas escolhas

Antonio Patriota, chancelar brasileiro, em alto e bom som, defendeu novamente sanções contra o Paraguai na Organização dos Estados Americanos (OEA).
Pior que isso, disse que o secretário-geral da OEA, Jose Miguel Insulza, não tinha o direito de falar pelos países da região, quando este se posicionou contra uma punição ao Paraguai.
Agora, a subsecretária de Estado para as Américas, Roberta Jacobson, marcou a posição dos Estados Unidos ao declarar que a deposição de Lugo não constituiu um “golpe” e nem aconteceu a ruptura da ordem democrática.
Pelo visto, independente de razões políticas ou comerciais, o Brasil mais uma vez escolhe o lado errado do jogo.
Ao se aliar a uma Argentina a beira do caos financeiro e político e a um Uruguai extremamente desconfortável em apoiar a decisão, o Brasil mais uma vez da uma demonstração da sua pouca competência em política internacional.
Pelo visto golpe mesmo foi dado pelos três países – Brasil, Argentina e Uruguai – que com a suspensão do Paraguai removem o último obstáculo para a entrada da “democracia venezuelana” Hugo Chaves na União das Nações Sul Americanas (Unasul).

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Hoje acordei diferente

Hoje acordei diferente.


Não sei se foi a lembrança de uma passagem especial de meus tempos de escola.
Estava no quarto ano primário (desculpem-me os mais novos, mas era assim na minha época) e a minha escola
participava de um concurso educacional que premiava aos melhores alunos qualificados por faixa escolar, com uma medalha e um diploma de mérito.
Até aí nada demais, mas o realmente era importante era a entrega do prêmio.
Um domingo, sessão solene no Cine Alvorada, pais e professores reunidos, com a presença dele... o herói de todos os garotos, o paladino da justiça, Bat Masterson.
Se existissem cartões de crédito naquele tempo, com certeza a frase seria “isso não tem preço”.
Receber a medalha das mãos de Bat Masterson, para um garoto daquela época, era como fazer um gol em final de copa do mundo.
E lá veio ele. Entrando pelo cinema a disparar seu revólver de cano curto, chapéu e bengala.
A medalha pendurada em meu peito que reluzia como uma estrela de xerife havia me transformado em parceiro do grande Bat Masterson, pronto para cavalgar ao seu lado em uma vida cheia de aventuras.
Não via a hora de chegar a casa de minha avó para o almoço do domingo.. Com toda a família reunida, eu, peito aberto a desfilar, para inveja de todos os meus primos, a medalha do Bat Masterson.

Hoje acordei diferente.

Assim como na lembrança, hoje não via a hora de ganhar a rua em um desfile interior. Peito e cabeça erguidos, todo prosa e pronto para despertar a inveja de muitos. Sol invernal, a rua coberta com cores brilhantes e matizes das mais diversas.

Hoje acordei diferente.

Apesar de todas as cores da vida, hoje acordei em preto e branco.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Professor, uma profissão sem futuro?

Uma matéria publicada pelo Estado de São Paulo - edição do dia 20 de junho, caderno Vida – serviu para que lembranças me conduzissem a uma pequena viagem ao passado, tempos de estudante.

Tabulando dados obtidos através do questionário Prova Brasil 2009, o jornal apresentou uma importante
fotografia sobre como os professores das escolas públicas brasileiras vêem a educação e o resultado do ofício de ensinar.
A pesquisa, focada na faixa do 5º e 9º ano do ensino fundamental, aponta, segundo respostas dos professores, as razões que levam ao baixo rendimento dos alunos do ensino público.

Nos cinco primeiros lugares estão:

Pouca assistência da família nas tarefas 68,9%

Falta de interesse e de esforço do aluno 65,6%

Meio em que o aluno vive 61,2%

Nível cultural dos pais 56,5%

Baixa autoestima dos alunos 51,7%

Na parte inferior da tabela aparecem em 9º os baixos salários e em 12º o conteúdo curricular inadequado.
Mais que uma inversão de valores, a pesquisa parece indicar que para os professores, os verdadeiros
culpados pela péssima qualidade de ensino brasileira são os alunos e suas famílias.
Não que essa geração de pais “pós palmadas no bumbum” não tenha transferido para a escola toda a responsabilidade da educação dos seus filhos (fator muito mais presente nas escolas particulares).
Existe certa omissão com certeza, mas, a questão é muito maior que isso.
A falta de investimentos significativos em educação por parte dos governos federais, estaduais e municipais,
os baixos salários pagos aos professores, a falta de programas adequados para a formação desses profissionais, o descaso e o sofrimento com que sempre foram tratados acabaram por remover os ideais e os valores de toda a classe docente.

Os que insistem em abraçar a profissão estão, infelizmente, na sua grande maioria, ou desmotivados ou despreparados para para exercer o seu trabalho.

Foi-se o tempo em que professores e gerentes do Banco do Brasil freqüentavam os sonhos de todas as moças casadoiras.

Quantos de nós, que fizemos o ensino básico em escolas públicas, não encontramos professores
de matérias insuportáveis ou incompreensíveis aos nossos olhos e que pelo carisma e didática desses mestres, passaram a ser nossas preferidas. Quantos conselhos e quantos exemplos. Os salários já eram miseráveis, mas havia muita paixão pelo ofício que sempre teve como meta cuidar do bem mais precioso do ser humano, o seu futuro.

Só que nem o mais profundo dos amores pode resistir a tanto descaso, a tanta humilhação.

Obrigados a cumprir uma jornada de trabalho exaustiva de até três períodos, sem condições de poderem buscar um aperfeiçoamento, não encontram a valorização merecida, trabalhando por salários que em muitas regiões do país chega a ser menor que o mínimo.

Resta o desanimo, o abandono, o desespero de cruzar os braços e desistir da luta.

Na vida, como na educação, sempre é tempo para aprender, para mudar, para fazer um novo futuro.

O Brasil, país do futuro como sempre foi conhecido, na verdade sempre foi o país do presente.

Talvez porque o futuro não dá voto hoje e se o futuro a Deus pertence, ele que cuide da sua obrigação, não é?.

Enquanto o governo fingir que paga um salário justo e digno e os professores fingirem que ensinam, a

grande vítima continuará sendo o aluno, ou melhor, nosso futuro.







sexta-feira, 15 de junho de 2012

Entre o Discurso e a Realidade



A presidenta Dilma Rousseff deve anunciar mais um pacote de medidas econômicas - no valor de R$ 10 bilhões em investimentos - como mais uma “ferramenta anticíclica contra a crise internacional”, denominação dada pelos interlocutores do governo.

No bojo do pacote está o barateamento do financiamento dos investimentos em infraestrutura, tendo como principais intermediários o BNDES e o Banco do Brasil.

O inconformismo governamental reside no fato de que apesar de todos os investimentos liberados, a nossa economia continua paralisada.

Não reage a toda medicação empregada e parece não se emocionar nem mesmo com o enorme volume de mídia utilizada.

O real problema não está no remédio e sim na separação abissal entre o discurso do governo e a dura realidade constatada pela maior parte do empresariado, principalmente os pequenos e médios, que não conseguem chegar nem perto dos tão necessários financiamentos.

Em sua grande maioria atolados em empréstimos a juros escorchantes, os empresários tinham a esperança de repactuarem suas dívidas com taxas menores e prazos maiores, o que garantiria o respiro mínimo para a sobrevivência do negócio.

Não é o que realmente acontece.

Um conhecido meu, dono de uma empresa que sempre gravitou entre a pequena e média, estimulado por toda a propaganda oficial, munido das melhores boas intenções, foi à luta em busca da salvação da sua lavoura.

Quem melhor que o Banco do Brasil para oferecer essa ajuda tão necessária?

Foi o início do calvário.

Após a entrega de toda a documentação exigida, e bota documentação nisso, aguardou mais de dois meses para que o banco fizesse todas as avaliações necessárias. Isso, levando-se em conta que o patrimônio pessoal dele e de seu sócio, comprovado pelas declarações de imposto de renda, era cinqüenta vezes maior que a quantia solicitada.

Após todas idas e vindas bancárias, é convocado pelo gerente do banco que, visivelmente acabrunhado, informa que conseguiu aprovar um limite de apenas quinze por cento do empréstimo pedido.

O empresário ainda tenta argumentar, afinal o seu patrimônio era a garantia de toda a operação de repactuação da divida, uma operação praticamente sem riscos, absolutamente dentro das exigências alardeadas em todos os comunicados publicitários do governo. Nada adiantou.

O máximo que conseguiu obter do gerente do Banco do Brasil foi a promessa que após um ou dois anos de relacionamento com o banco, o limite de crédito poderia ser expandido.

Aí chega o governo e pergunta por que a economia continua estagnada. Pode?

Um ou dois de relacionamento?

O difícil de acreditar na promessa do paraíso e saber que para chegar lá tem que morrer antes.




quinta-feira, 14 de junho de 2012

Texas Saloon

É muito cômodo transferir para os donos dos restaurantes toda a responsabilidade pela segurança dos seus clientes. Não se trata de eximi-los da obrigação de zelar pela clientela, mas acreditar que o cumprimento de todas as determinações defensivas que deverão constar nos laudos que serão preparados pela Polícia Militar, irão fazer com que os arrastões acabem é muita inocência.

Sem um planejamento sério da Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo, sem uma sintonia fina com os órgãos municipais de segurança, sem planejamento e investimentos adequados, aliados a um melhor preparo dos nossos policiais, estaremos muito próximos do caos.

Assaltos, roubos, seqüestros relâmpagos, arrastões em prédios e no comércio estão cada vez mais presentes na mídia e na vida dos cidadãos paulistas.

Já passou da hora das autoridades civis, policiais e judiciárias darem um basta.

Chega do empurra – empurra com cada parte se eximindo da sua responsabilidade.

Achar que cada dono de restaurante e morador dessa cidade deve cuidar da própria segurança, é inverter completamente a questão.

Acabaremos voltando aos tempos dos saloons, onde cada dono contratava seus próprios pistoleiros para cuidar da proteção.

terça-feira, 15 de maio de 2012

A felicidade é cinza?



Outro dia encontrei um amigo e ao perguntar como ele estava recebi a seguinte resposta:
- Estou bem. Meu médico me receitou uma pilulazinha para dormir e outra para acordar, agora tudo está se acertando.
Como sabia que ele havia passado por um drama familiar muito grande, não quis esmiuçar as razões e necessidades da medicação passada.
Abraços, promessas para um almoço ou happy hour nunca agendados e segui o meu caminho.
Esse nosso mundo está ficando cada vez mais estranho. Como alguém que precisa tomar uma pílula para dormir e outra para acordar pode estar bem?
Claro, existem casos em que a medicação é fundamental e absolutamente vital para a recuperação do paciente. Não coloco isso em dúvida ou contesto a sua necessidade. Minha critica é dirigida ao abuso da indústria farmacêutica, apoiada pelo modismo dos tempos atuais, de se produzir remédios e depois procurar a doença.
Agora você pode encontrar até pílula para proteger o seu estomago das outras pílulas que você toma.
No caso do meu amigo, podemos levar em conta toda a situação passada, mas, quantos de vocês já não ouviram de conhecidos a mesma frase? Pessoas com vidas absolutamente normais, mas que se apresentam
como portadoras de alto grau de stress.
A pressão no trabalho, o mundo cada vez mais competitivo, as contas a serem pagas pelas compras de produtos que na maior parte das vezes não precisamos, a verdadeira busca pelo não sei o que.
Mais que a harmonização de idéias e pensamentos, hoje estamos nos tornando homogêneos nas queixas e reclamações.
Tudo deve ficar cinza - nós inclusive - porque com tudo cinza é mais fácil se esconder.
Como peixes buscando abrigo nos corais em mar de tubarão.
Falta ousadia, falta coragem. A necessidade de buscar o prolongamento da vida fez com que rompêssemos o limite entre viver muito e viver bem.
Corpo perfeito, saúde perfeita, vida perfeita, mundo perfeito.
Com isso nos esquecemos do essencial, a paixão.
O ser humano é movido a paixão e não existe paixão sem riscos.
Paixão pelas pessoas, pelo trabalho, pelos ideais, pelos sonhos.
Ela faz com que você esqueça todos os erros do passado e arranca as
incertezas sobre o futuro.
Não se pode viver o que já passou ou o que está por vir.
Paixão é como a própria vida. Paixão é o hoje.
Quando ela não está presente a alma adoece. A angústia e a depressão tomam conta do ser humano, campo propício para o surgimento da culpa.
Culpa pelo feito e pelo desfeito. Pela coragem ou pela covardia.
Hoje só nos atrevemos a passar por uma corda se a rede de proteção estiver por cima dela.
Ninguém quer saber de riscos, mas acabam por esquecer que viver é arriscar.

Arriscar até mesmo ser feliz.

terça-feira, 24 de abril de 2012

O Escracho e a Imprensa

A mascara de carnaval oferecida por Mauricio Meirelles, integrante do CQC da TV Bandeirantes, à secretária de Estado norte-americano Hillary Clinton, durante coletiva de imprensa no Itamarati, gerou, além do mal estar entre todas as autoridades e jornalistas presentes, uma possível punição a toda a equipe do CQC em participar de futuros eventos, viagens e comitivas da presidência da República. Censura á imprensa? O preceito básico do jornalismo é informar. Levar ao público matérias e informações que possam trazer significado e relevância para um maior entendimento da sociedade em que vivemos. Coisas que até o CQC faz com maestria no quadro Proteste Já, confrontando autoridades públicas e suas promessas para a população. Agora, atitudes como as da coletiva do Itamarati não posso concordar. O escracho, a ridicularização e a mais absoluta falta de noção básica de educação e protocolo, tentando transformar em “escada” qualquer autoridade que apareça pela frente, isso eu não posso concordar. Desculpem-me, mas isso não é jornalismo e em nada ajuda a imagem do Brasil no exterior. Que o competente Marcelo Tass consiga, craque como é, restabelecer os limites necessários para a boa condução do seu programa. Que a inteligência volte a imperar.

terça-feira, 17 de abril de 2012

O impresso e o digital. A sindrome do Highlander

O que era para ser um novo modelo de negócios no mundo da comunicação, por falta
de um melhor entendimento, pode acabar em uma guerra pela sobrevivência
em que se busca desesperadamente chegar antes, sem saber ao certo aonde, como e
porquê. E o que é o pior, sem definir exatamente qual é real negócio que resulta de todas
essas transformações. Para muitos é o abismo pelas costas e a escuridão do desconhecido pela
frente.
Na conta corrente da adequação do mundo off para o mundo online, os prejuízos se
acumulam em escala exponencial, disfarçados na maioria das vezes por uma promessa
de lucros inexeqüíveis.
E, como em toda guerra, as vítimas aparecem a cada batalha.
A mais nova vitima foi um presidente de um importante jornal paulistano,
que perdeu o seu posto por capitanear um processo de condução do conteúdo
do impresso para o mundo digital, que acabou consumindo recursos financeiros
enormes, sem conseguir – após ultrapassar todos os prazos estabelecidos – ao menos
iniciar o negócio.
A miopia de todo o processo pode residir exatamente em tentar passar de um meio para o outro imaginando
que se trata tão somente de uma adequação de conteúdo, quando na verdade é o início de um novo
negócio, com regras diferentes, resultados diferentes e até mesmo com conteúdo diferente.
O mundo off é regido pela regra do tátil, da empresa possui e vale tanto. O mundo online é do intangível,
a empresa possui a possibilidade de ser, ela possui a capacidade de gerar tanto.
Com as regras existentes no mundo real pode a Instagram valer 1 bilhão de dólares?
A possibilidade de se agregar ao texto, fotos, imagens e sons, de permitir a participação imediata do
leitor amplia de uma maneira absoluta a maneira de se passar a informação.
O leitor online não é o mesmo do impresso. A sua necessidade de informação e da maneira como ele quer recebê-la é diferente.
Podem ser divididos basicamente em dois grupos, os generalistas e os analistas.
O primeiro mais focado em saber de tudo um pouco sem a necessidade de aprofundamento. Já o segundo dá preferência
para as análises, para a compreensão de tudo que possa lhe afetar. O ponto em comum é o tamanho da informação que
estão dispostos a absorver. O tempo está cada vez mais curto, assim como a sua capacidade de ler.
Quanto ao negócio, vamos lá.
Dizer que o mundo digital corta processos na distribuição da informação e conseqüentemente apresenta uma redução
significativa de custos é, para não dizermos mentira, no mínimo uma meia verdade, com forte tendência para um quarto.
Sim, democratiza a informação. Sim, agiliza e expande a sua distribuição. Agora, quanto aos custos....
Hoje, erguer uma plataforma digital dentro dos mais avançados recursos tecnológicos, pode custar mais que
importar o mais moderno sistema de impressão para o seu parque gráfico.
E quanto a receita?
A profusão das informações gratuitas do mundo digital torna cada vez mais difícil a sua cobrança.
Claro, a informação relevante, pertinente, necessária e exclusiva, sempre irá encontrar o seu comprador.
Já no caso da publicidade, a distância entre o impresso e o digital é abissal.
É impossível qualquer comparação entre a página (tabela) de um jornal e qualquer formato existente no modelo digital.
Então, já que o mundo digital é irreversível, qual a solução a ser adotada para realizar essa transferência?
A primeira delas é eliminar a palavra transferência. Transferir significa levar alguma coisa de um lugar para o outro, abandonando
o lugar original.
O jornal continuara existindo enquanto o público do papel existir. Quem gosta do papel consome o impresso. Pode até flertar com
o digital, mas só encontra o prazer com o impresso. Portanto não se trata da eliminação de um para a sobrevivência de outro.
Alguns preferem o rádio para acompanhar o seu futebol, outros a televisão. O produto a ser consumido é o jogo e quem determina
como quer receber e o que deve conter a informação é o público. Cada qual com cada qual. Não é necessário que um morra para que o outro possa sobreviver.
A segunda saída para o sucesso do negócio no mundo digital é não tentar construí-lo em cima da estrutura anterior.
Assim como não se deve levantar uma nova construção sobre as pilastras da construção antiga, a conscientização de
que são negócios diferentes deve levar a modelos de avaliações absolutamente separados, separação que em
muitos casos podem chegar até as estruturas físicas. A mistura de setores e metodologias de trabalho podem muitas vezes
ofuscar a leitura real dos resultados.
O correto entendimento dessas diferenças básicas será o condutor do sucesso das empresas de comunicação no online.
O que está acontecendo é que algumas empresas do setor parecem estar tentando enviar a televisão dentro do rádio.
Aí não há business plan que de jeito.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O lixão de Brasilia

Cada vez que vejo na novela das nove aquele mundaréu de gente tendo que
conviver com o lixo vindo de todos os lugares, me vem a
lembrança Brasília.
Como os habitantes do lixão, a população brasiliense tem que suportar também a
companhia do que de pior cada estado da federação produz e envia para lá
sob a forma de deputados e senadores.
Não tratarei de ser político dizendo “ora, não são todos, tem muita gente decente lá”.
Caso existam, mais do que nunca chegou a hora. Manifestem-se, apareçam, dêem o exemplo, nem que seja
para que a custa da própria renúncia deixem claro o divisor de águas.
Não me venham com frases prontas de que lá estão para transformar, para poder vigiar de perto a correta
condução dos interesses do povo.
A única transformação que o povo tem assistido é a do padrão de vida dos próprios deputados e senadores.
Ricos, cada vez mais ricos em um país em que a grande maioria da população mal consegue comer.
Que interesse pode ter o povo em ver os eleitos aprovarem 18 salários por ano?
Verbas de representação no valor de 100 mil reais por mês?
Mensalões, meias e cuecas milionárias, a divisão do butim em cascatas....?
Quem não concorda não convive. Quem não aprova não participa.
A representação do povo é um cheque em branco ao portador.
Usar o voto em benefício próprio é roubo, é crime.
Precisamos de atitudes definitivas. A resignação do povo é a certeza
da impunidade de quem deve ser castigado.
Ovelhas não podem pedir a proteção dos lobos.
Portanto, deputados e senadores, assumam suas posições com
clareza, ergam as suas bandeiras.
Afinal, como diz o ditado, quem convive com bandidos, bandido é.

sexta-feira, 30 de março de 2012

A estatística do frango e do trem

Essa coisa de estatística é sempre engraçada. Dois amigos vão a um restaurante, pedem um frango que só um deles come. Estatisticamente cada um comeu meio frango, na realidade um se fartou e o outro saiu com fome, não é?
A tentativa canhestra do secretário estadual dos transportes metropolitanos - Jurandir Fernandes -de usar a estatística para defender os desacertos da CPTM, soa no mínimo irresponsável.
"A CPTM está dentro dos padrões internacionais. Nesses três primeiros meses do ano fizemos mais de 600.000 viagens (considerando-se também a operação do Metro). Estatisticamente 22 panes não representam nada".
Representam sim, meu caro. Em cada uma dessas paralisações 90.000 pessoas foram afetadas diretamente, sem contar o fato que são trabalhadores e a sua ausência ou atraso acabam comprometendo toda a cadeia produtiva.
Mas já que o tema é estatística, que tal essa?
Do dia 1 de janeiro até ontem foram 89 dias. Descontando-se 3 dias de carnaval e 16 domingos (dia do chamado descanso), são 73 dias úteis de trabalho, já se considerando o sábado como dia útil.
Portanto, de 73 dias úteis nesses primeiros três meses, a CPTM apresentou problemas em 22 dias. Ou seja, estatisticamente a CPTM falhou em 30% dos dias
existente.
Essa é a estatística da população, que não vive nem come estatística.

quinta-feira, 29 de março de 2012

A Felicidade e a Justiça

Mantendo a grande lupa sobre os escândalos e mazelas dos três poderes brasileiros, a mídia nacional
vem apurando e dando o devido destaque para todos os desvios de conduta, aliciamentos e corrupções
existentes nas esferas de comando do nosso país.
Às vezes -em casos específicos e flagrantes- em uma orquestração que nos deixa uma ponta de dúvida a que interesse serve.
Muito tem se dito ultimamente sobre as nossas cortes e seus homens de toga.
Favorecimentos, sentenças vendidas, apropriações de verbas indevidas, legislar
em causa própria, enfim, pautas e mais pautas sendo produzidas para consumo imediato,
para aproveitar a audiência do momento.
Não estou a discutir o mérito de cada questão. Acredito que tudo deva ser apurado com
a mais absoluta isenção e que as condenações, quando devidas, sejam rápidas e exemplares.
A forma mais eficaz de educação é o exemplo.
O contraponto que gostaria de apontar, é uma matéria que infelizmente não obteve toda luz e destaque, conduzida
pelos jornalistas Maíra Magro e Juliano Basile, na edição do dia 23 de março de 2012, do caderno
Eu&Fim de Semana, encartada no Valor Econômico.
Levando o título de Direito à Felicidade, a matéria inicia com o caso de um aposentado da Receita Federal – Antonio Madeira-
que praticamente no final da vida, teve que amargar um corte de 20%. Anos de luta nos tribunais e apenas um ano antes da
sua morte obtém a vitória na Suprema Corte.
Carlos Veloso, ministro do Supremo Tribunal Federal e relator do processo de Antonio Madeira, ao emitir seu voto favorável,
apontou como uma das razões mais relevantes para a existência das normas, o direito do homem a buscar a felicidade.
A felicidade passou a ser um tema recorrente em um numero cada vez maior de sentenças em nossos tribunais.
Considerável grupo de juristas, em quantidade e qualidade, opina que a tal felicidade (como já cantavam as Frenéticas), não
pode servir de critério ou parâmetro para uma decisão judicial. Nada pode sobrepor-se as leis vigentes, serão sempre
julgamentos subjetivos, conduzidos no calor da questão.
Exemplificam com serial killers e estupradores, que poderiam justificar seus crimes como a busca da felicidade pessoal.
Ora, entre o mal a ser evitado e o bem que pode ser feito, a esmagadora maioria reina carente e necessita de uma melhor compreensão
para o seu problema.
Afinal o que é felicidade individual? Quando o coletivo pode ser premiado?
Quando um juiz do STF reconhece uma união homossexual, garantindo todos os direitos do casal, em um primeiro momento
o benefício é individual, mas, com certeza, a jurisprudência irá estender a vitória a toda uma coletividade que aguarda ansiosamente
esse desfecho.
A felicidade de alguém não é necessariamente a infelicidade do outro.
Para um paciente que necessita desesperadamente de uma cirurgia, negada por seu plano, obter a vitória para o seu pleito, significa levar
a infelicidade para a empresa prestadora do serviço médico?
Que a operadora do plano obtenha o ressarcimento do seu prejuízo junto aos canais competentes.
A empresa pode esperar a vida não.
Que se revejam as leis. Que se estabeleça com clareza quando negar uma simples satisfação pessoal e quando premiar uma sentença
que abrirá as portas para toda uma coletividade.
Afinal, o que todos buscamos nessa vida não é ser feliz?

segunda-feira, 26 de março de 2012

Uma aula celestial

A ansiedade era enorme, afinal, o tão aguardado convidado estava para chegar.
Como em um balé mágico, cada um dos presentes procurava naquela agitação dos acertos finais, o seu exato lugar
na festa, para que tudo corresse dentro do que fora previamente combinado.
Um velho coronel, vestido com um terno de linho branco e chapéu de abas largas, ainda acreditando em um poder a muito
perdido, bradava ordens de comando não obedecidas, enquanto procurava por todo o salão a sua mulher Maria Teresa.
No canto do bar, em seu enésimo uísque, um sujeito completamente entorpecido pela bebida, respondia a todos
que o chamavam de bêbado “...sou, mas quem não é?”
Em uma das muitas rodas de amigos formadas pelo local, avistava-se um senhor com um óculos de grau que possuía uma só das lentes
escura, como se fosse um tapa olho. Em voz alta, coisa que acentuava ainda mais o seu sotaque nordestino, contava para todos como
havia capturado uma onça feroz usando somente a força do seu pensamento, coisa prontamente confirmada pela esposa Terta, sua
fiel testemunha.
Uma senhora com um chapéu e luvas brancas rendilhadas, sentada em uma das poltronas, falava ao telefone com ares de segredo.
O comentário que corria pela festa é que ela estava falando com alguém importante de Brasília
Certamente não seria com o deputado, que com um bigode que mais parecia uma vassoura de piaçava, reclamava de todas as pessoas
humildes que o procuravam para fazer algum pedido, afirmando que para ele todos os pobres deveriam explodir.
Celebridade como convém a todo grande evento, não faltavam.
Um provável galã de novelas mexicanas, com uma inenarrável redinha a prender seus cabelos e um blazer que mais
parecia um robe de cetim, aborrecido por alguma pergunta feita pela entrevistadora de uma televisão, gritava para que
todos pudessem ouvir, “Eu não garavo mais!”
As atenções da imprensa logo se voltaram para mais um “famoso”, que vestindo um surrado agasalho esportivo, com uma bola
de futebol murcha embaixo do braço, insistia em afirmar que só estava esperando a convocação do Mano para se integrar a equipe
da seleção brasileira.
Enquanto isso, desfilando entre os convidados com um enorme crachá prateado pendurado no pescoço, um rapaz dentuço buscava seduzir
as mulheres presentes dizendo-se poderoso e amigo da “diretoria”.
No palco, um grupo de artistas com imensas cabeleiras e vestidos à la tropicália, cantavam uma música com um refrão esquisito, qualquer coisa
como ....vou batê pra tu batê, pra tu batê.
Observando ao longe, um velho negro com cabelos brancos encaracolados como se fossem nuvens, afasta dos lábios seu
cachimbo de madeira e sorri ao ver o esforço de um garçom fanho, com um bigodinho pequeno e fino, tentando explicar a um convidado
qual seria o cardápio.
Repentinamente as luzes se apagam e a música para. Silêncio.
O facho de um canhão de luz é dirigido para a porta principal do salão que se abre para deixar o convidado entrar.
Ele chegara!
Caminhando vagarosamente, como a querer saborear cada segundo da sua homenagem, o velho mestre encaminha-se ao
centro do salão.
A cabeleira ainda é toda branca, as rugas ainda desenham o seu rosto, como se quisessem perpetuar a história de toda a sua vida.
O terno - o mesmo - puído por anos de lavar e tornar a vestir. A gravata, que um dia fora encarnada, e que agora o tempo se incumbira de rosar.
Mas alguma coisa estava diferente.
As dores de coluna que por tantos anos lhe incomodaram haviam desaparecido. A tosse, cultivada a pó de giz durante uma vida inteira, não se
fazia presente. Suas pernas enfraquecidas haviam adquirido força nova. Caminhar já não era mais um sacrifício, a ligeireza havia voltado. Parecia
pronto para correr novamente pelas caatingas do seu nordeste, quem sabe até voltar a jogar futebol, no ataque do seu Vasco, quem sabe.
Olhando á sua volta reconhece a cada um dos seus filhos. Recorda o sofrimento e a alegria de cada criação. Cada um, um pedaço dele próprio.
Mãos o levantam e carregado em triunfo é conduzido ao palco. Ali sempre fora a sua casa, sua vida, sua fé.
As luzes não o impedem de enxergar a todos. Consegue avistar seus antigos companheiros, pessoas que tanto ajudou, mas que sempre souberam retribuir
cada gesto de carinho.
Convoca-os ao palco, chamando cada um pelo nome.
Enxuga a lágrima teimosa que insistia em cair e com a habitual voz rouca dá o comando.
- Senhores, ao trabalho! Vamos lá que aqui o Chefe não gosta de atrasos.
Nós, aqui na Terra ficamos órfãos, mas tenho a certeza que o Céu ficou um lugar muito, mas muito mais feliz de se viver!

segunda-feira, 12 de março de 2012

O Brasil e a Copa do Mundo

Segundo pessoas muito bem informadas sobre o andamento das obras de
infraestrutura para a Copa do Mundo de 2014, o Brasil deverá
cumprir todas as etapas do planejamento exigido, com restrições
e “adequações”, infelizmente tão comuns em terras brasileiras.
Dos 12 estádios prometidos 9 ou 10 deverão estar completamente prontos e com
padrão internacional, para não ficar devendo nada aos mais modernos do mundo.
Os restantes 2 ou 3 com certeza ficarão pelo caminho.
Quanto aos aeroportos e vias de acesso o “buraco é mais embaixo”. Provavelmente
nem metade do prometido será entregue.
Claro que o plano b já está traçado. Aviões internacionais com códigos de
preferência para o pouso, as vias de acesso aos estádios em sentido único para ida e volta,
tudo para passar a sensação para os turistas que todos os nossos problemas de transporte foram brilhantemente resolvidos
Agora, se mesmo assim o trânsito não aliviar, restará sempre o recurso de decretarmos feriado nacional nos dias de jogos.
Afinal, esse é ou não é o país do futebol?

sexta-feira, 9 de março de 2012

Caminhão ou Com a Minha Não

Será que é muito difícil entender que a população de São Paulo não tem mais como conviver com os índices de congestionamentos atuais?
Que a infraestrura urbana da cidade não tem como acompanhar a insana produção da indústria automobilística?
Que não bastam os investimentos (minguados) públicos, sem a conscientização de cada um de nós?
Que algumas profissões deverão ser repensadas em horários e caminhos alternativos?
Afinal, 56% de redução no índice de congestionamento no horário de pico ontem a tarde, foi coisa de cinema.... antigo, do tempo era uma vez uma Marginal do Tiête!

Um ano da tragedia

Segunda feira próxima, 12 de março de 2012, a terrível tragédia que devastou toda a costa nordeste do Japão completará um ano.
O terremoto seguido do tsunami, além de criar uma crise atômica e ceifar milhares de vidas, praticamente reduziu a pó toda a infraestrutura das cidades atingidas.
Apesar de ainda terem em suas mãos o enorme problema de todo o entulho gerado, os japoneses nesse um ano praticamente reconstruíram grande parte do que foi destruído. Um exemplo maravilhoso de determinação, trabalho, vontade política e consciência coletiva.
Caso o mesmo tivesse ocorrido no Brasil, após um ano, as nossas autoridades ainda estariam discutindo as regras da licitação para a escolha da empreiteira encarregada da reconstrução.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Isola del Giglio - Bandido e Heroi

Qual terá sido a verdadeira intenção do capitão do Costa Concórdia, Francesco Schettino, ao passar com seu navio, de uma maneira tão imprudente, tão perto da costa italiana e da Ilha de Giglio?
Teria se rendido ao canto das sereias que habitavam as ilhas da Antiguidade nas histórias de Homero? Fazer um trajeto que nenhum outro comandante havia feito? Mostrar a sua superioridade ao desdenhar qualquer risco possível, confiando em toda a tecnologia a sua disposição?
Não deveria Schettino tomar a mesma atitude de Ulisses, que aconselhado pela deusa Circe, tampou os ouvidos e amarrou- se junto com seus homens aos mastros do navio para não serem seduzidos pelo canto mortal?
Na conhecida história de Homero, as sereias e seus cantos representavam a emoção se sobrepondo a razão, a magia que afastava os seres humanos da prudência, mãe de todas as virtudes.
Imprudência, excesso de confiança, desvario?
A imprensa corre atrás das respostas. Nas redes sociais as pessoas postam seus "achismos" como se fossem os mais experimentados engenheiros navais. Uma profusão de análises, gráficos e estudos são disponibilizados para a opinião pública.
Ao contrário do navio Costa Concórdia, a verdade vira a tona.
Por enquanto a história já tem seu bandido e seu herói.
O que se apressa em buscar sua salvação, contrariando o que se espera de um bom capitão, abandonando o navio no primeiro bote e, o verdadeiro herói, Manrico Giampedroni - chefe dos comissários - que foi resgatado 36 horas depois, com a perna fraturada, que segundo relatos participou de ativamente no auxílio e socorro de todos os passageiros.
Que todas as causas sejam apuradas com equilibrio e isenção. Que a lição seja aprendida. Que o conforto chegue a todos os corações que viveram essa experiência tão infeliz.
Que a Ilha do Giglio (Ilha dos Lírios) consiga voltar a sua normalidade, guardiã da costa de uma das mais belas regiões da Itália, a Toscana.